quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O raio do outono

2013-10-09 15.10.13 As pessoas falam muito do inverno polaco e das suas condições extremas. Frio extremo, escuridão extrema, baixa extrema da pressão atmosférica, todo um ror de defeitos que fazem do inverno uma coisa temível apesar de inevitável. O inverno polaco incomoda-me bastante, não tanto pelo frio porque este só se sente quando estamos fora de portas uma vez que quando estou em casa podem estar -15ºC na rua que eu ando alegremente descalço, de boxers e t-shirt. É a neve que suja os sapatos e a entrada de casa, é o frio que me agrafa ao sofá aos fins de semana fazendo-me perder borgas épicas da noite varsoviana, é a moleza que se mete no corpo e que nos faz definhar de fome em frente ao televisor por preguiça de sair à rua para fazer compras. Mas apesar do inverno ser ruim e severo não me irrita tanto como o outono.

Essa sim, é a pior estação do ano e não me deem o discurso do ‘verão dourado polaco’ porque isso é tudo conversa de chacha. Não há nada de agradável numa estação nas quais os dias começam a ser dramaticamente mais curtos, a temperatura desce a olhos vistos – o que se torna um problema sério durante os treinos noturnos de futebol – o carro começa a ficar com uma camadinha de gelo no pára-brisas que nos consome minutos a raspar, não posso deixar as janelas abertas para arejar a casa sob risco de entrar numa arca frigorífica quando regresso a casa, faz vento, cai chuva, há uma leitosa névoa matinal (e noturna, ainda ontem no treino eu não conseguia ver a baliza oposta) que nos faz sentir ramelosos, um mar de folhas em cima do carro para sacudir todas as manhãs… Não encontro uma só virtude no outono e esta é uma estação que podia muito bem ser eliminada do calendário para evitar a rabugice que se apodera de mim. Ainda por cima a hora está quase a mudar para agravar mais a situação.

Os polacos têm sentimentos mistos em relação ao outono, conseguem encontrar-lhe algum encanto nas tonalidades das folhas caducas, no vento fresco Nevoeiro em Varsóviaque vem das florestas, na apanha de cogumelos ainda antes do sol nascer, na satisfação com que se aprestam a renovar o guarda-roupa de inverno. Parece-me até que gostam mais do outono do que do verão porque eles reclamam do calor quando o estio aperta, que é um inferno, insuportável, uma punição que só os sarracenos sulistas conseguem gramar. Eu não acho virtude nenhuma no outono, pronto. Vai entrar a época dos agasalhos com todas as coisas más que tal acarreta, até as cores das roupas quentes são mais deprimentes, azuis escuros, cinzentos, castanhos pesados, verdes secos, é medonho. Está hora de pegar na agenda telefónica e atualizar os contactos para se arranjar aconchego durante as noites arrefecidas de outubro e novembro, felizmente que a SportTv está a bombar em pleno e o livro da Bimby tem quase 200 receitas para me entreter.

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