domingo, 6 de outubro de 2013

No meio da tempestade, uma bonança

Bruno de Carvalho - El PresidenteNo corrente período de indefinição não tenho tido muitas razões para andar motivado ou esperançado, os planos estão todos em stand-by por causa da instabilidade que se vive nos meus interesses em Portugal e também devido à mudança de paradigma que tive de adotar como resultado de alterações fraturantes no plano da vida sentimental sofridas num passado recente. Tudo se afigura nublado para mim, o meu horizonte temporal estende-se a uma semana porque não consigo enxergar mais longe do que isso. Penso que todos passamos ou pelo mesmo, um período em que se põe tudo em causa e se desconfia da própria sombra, precisamos de frequentar outros lugares e ver outras pessoas para preservar a imagem, não a desgastar e não a impor. É um período desse que atravesso, de total clausura ou de fera libertinagem consoante os estímulos que me chegam sem nunca, porém, roçar as maluqueiras ou quadros de bipolarismo. Mecanismo racional de defesa ou reação endógena, sei que no geral não me tem apetecido grandes galhofas por falta de causas aceitáveis. No meio desta tempestade de sentimentos surge uma fonte de alegria justamente dum quadrante há muito enegrecido e ressequido: O Sporting.

Não há muito tempo o mundo via o pior Sporting de sempre, bisonho e triste, um saco roto de vergonhas e a levar vexames em todos os estádios portugueses e europeus. Assistia-se ao extenuar dum extraordinário clube de futebol devido à criminosa e demente política gestora dos seus dirigentes, gente duma total inaptidão para a responsabilidade de que foram incumbidos e que atiraram o Sporting para a chacota e risada do povo, mesmo entre os bufões que já celebravam vitórias garantidas e que terminaram de mãos vazias tal como os seus rivais de avenida. O Sporting entristecia, envergonhava, adoecia, perdia e perdia e perdia até o mais fiel adepto esmorecer e abandonar a fé. Não se via melhoras nem jeitos disso acontecer, o cenário era péssimo e aventava-se a possibilidade de terminar de vez, acabar e começar de novo. Eu próprio defendi uma solução tipo Fiorentina, refundar o clube e recomeçar a história de passivo e contas limpas, suportando a gozação de disputar divisões mais baixas e de defrontar adversários mais modestos mas com a cabeça novamente levantada e sem poluição a atrapalhar o olhar. Até que surgiu Bruno de Carvalho.

Eu não acredito em Messias nem no sebastianismo, ainda estou cético em relação à presidência de Bruno porque já levei muita porradnha de gente que prometeu fundos e mundos para no fim levar com uma correia de desilusões no lombo e agora só acredito nos ‘prognósticos só no fim do jogo’ e não embarco em euforias prematuras. Mas há uma coisa que eu não posso negar, é que finalmente voltei a ter prazer a ver jogar o Sporting. Agora eu acordo em dia de jogo já a pensar na bola, já planeio o dia em função do horário da transmissão, já elimino compromissos que possam cair ao mesmo tempo que o Sporting joga – epá, não posso. Dá o Sporting –, já vou ao supermercado fazer as compras necessárias para ver o desafio, já voltei a pôr o cachecol por cima do televisor, já me sinto inquieto na análise às estatísticas e antevisão do jogo, já deixo o telefone ligado para comentar as peripécias da partida no WhatsApp com os meus amigos sofredores leoninos, já acabo os 90 minutos de sorriso no rosto em vez de lavado em suor sofrido e dececionado. Tenho perfeita consciência que este estado não vai durar para sempre nem é admissível que assim seja, não vamos passar da pior temporada da história para a melhor de sempre, mas há coisas que são inegáveis e que dão supremo prazer aos adeptos leoninos.

  • A equipa joga bem, equilibrada e com lógica nos processos, tem critério e sentido no que faz; Fredy Montero
  • Fredy Montero é um achado. Faz golos de coisa nenhuma, sendo uma meia-leca de gente (1,75m) superioriza-se no jogo aéreo a defensores mais espadaúdos e resiste ao choque;
  • Os jogadores são lutadores e solidários, ninguém se esconde, todos assumem as suas responsabilidades sem protagonismos nem azias;
  • Rui Patrício, Cédric, William Carvalho, André Martins, Adrien, Wilson Eduardo, futebolistas made in Sporting, são regularmente titulares. Mais de metade da equipa titular do Sporting foi formada na Academia o que faz os adeptos gostarem ainda mais deles, incentiva o apoio e o carinho à equipa Ainda Dier, está sempre à espreita duma oportunidade, Mané já se estreou e há ainda João Mário, Betinho e Esgaio se for caso disso.
  • O presidente está no banco e prova que está com a equipa, com os técnicos, com os adeptos. Ao eliminar os ‘croquetes’ criou empatia e ao unificar as claques no mítico topo sul tornou-se líder incontestado;
  • A malta vai à bola, assistências sempre acima de 30.000 espetadores comprovam que os sportinguistas acreditam no Sporting. Isto porque o Sporting voltou para os sportinguistas, voltou a ser o nosso grande amor.

O Sporting não vai ser campeão este ano, se calhar nem no próximo, mas é o grande vencedor da edição 2013-2014 da Liga Zon-Sagres. Qual fénix leonina, renasceu dos seus próprios escombros e de um gato magro e piolhoso fez-se novamente leão lustroso e de apetite feroz, uma equipa capaz de criar centelhas de orgulho e alegria nos olhos dos seus adeptos. Regressou ao seu lugar de destaque no futebol nacional seguindo políticas de acordo com os seus ideais, políticas de justeza, seriedade, retidão e verdade. É isto que valorizo no meu clube, esta postura ímpar que procuro imitar na minha vida e no meu dia-a-dia.  Esta é a grande vitória do meu Sporting, a de reconquistar fés perdidas de velhos leões desenganados (a pontos do pai do Artur, verde empedernido mas amargurado até ao azedume, largar sem esforço uma cédula de 10 para ir ver o Sporting encavar os fis d’olhéu) e de chamar novos adeptos à causa, como a minha sobrinha de 18 anos que ama o Sporting como o tio – quem é que tem moral para ser sportinguista com essa idade? Este é o exemplo que pretendo seguir e pôr em prática na minha pessoa. Lamber as feridas, olhar ao espelho, eriçar a juba e rugir de novo porque tal como para o meu Sporting, também para mim amanhã o sol nasce de novo.

Saudações leoninas, com orgulho restaurado e uma moral do camano para ir trabalhar amanhã!

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