sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O arco da discórdia

Árco-íris da Praça do RedentorO dia 11 de novembro é o Dia da Independência da Polónia e o feriado mais importante do país, uma data que relembra a restauração da independência da Polónia em 1918 quando, após 123 anos de território particionado e dividido entre a Áustria, Prússia e Rússia, a Polónia reapareceu no mapa da Europa como estado soberano. Uma ocasião para exaltar o orgulho polaco, este dia é marcado por diversas manifestações de cariz nacionalista e contestatário às políticas de integração europeia, manifestações organizadas por diversos movimentos de ideologias que abrangem todo o espectro político mas com maior incidência sobre a extrema direita. É um dia que não é muito propício a passeios pelo centro das grandes cidades a não ser que se tenha curiosidade jornalística ou pouco amor à pele especialmente se a cor dos olhos e dos cabelos sugere proveniência mediterrânica ou atlântica, isto devido aos distúrbios que desde há três anos têm caracterizado o Dia da Independência.
 
Este ano o centro das atenções dos manifestantes em Varsóvia foram a Embaixada da Rússia, que foi apedrejada e vítima duma tentativa de invasão por parte de alguns manifestantes mais destemidos (ou enlouquecidos) e o arco-íris da Praça do Redentor, praça a que me refiro no artigo anterior. O arco-íris é uma criação da artista polaca Julita Wójcik instalada no centro da praça no verão de 2012 e que tem sido desde então origem de muita controvérsia por ser associado com movimentos homossexuais e por estar situado em frente a uma das igrejas mais tradicionais da capital polaca. Individualidades de diversos quadrantes já criticaram a estrutura de metal e flores artificiais com responsáveis políticos e religiosos à cabeça do pelotão apelidando o arco-íris de “desviante” ou “arco dos paneleiros”, declarações que potenciaram os quatro atentados a que o arco-íris já foi alvo no seu curto ano e meio de existênciaMarcha da Independência, a maioria por fogo posto, mas que não demovem a presidente da Câmara Municipal de Varsóvia, Hanna Gronkiewicz-Waltz, que afirmou publicamente que “o arco-íris será reparado tantas vezes quantas as que forem necessárias” endurecendo a posição do Poder Local contra as vozes contrárias à permanência da estrutura num local simbólico de cristandade e tradição. Teria sido melhor se o último conserto da instalação tivesse sido iniciado após o Dia da Independência e não concluído dois dias antes como acabou por acontecer.
 
O arco-íris da Plac Zbawiciela representa um braço-de-ferro entre a Polónia pró-europeia e progressista e a Polónia católica e conservadora, será tema de um quase perpétuo debate de valores e ideais, por tantos que o destroem por ser uma marca anti-cristã haverá outros tantos que o reconstroem como símbolo de uma cidade e de um povo tolerante. Logo após os incidentes que destruíram o arco-íris, voluntários e cidadãos anónimos colocaram ramos de flores na base da estrutura, organizações independentes fizeram no local eventos culturais apelando à paz e à coexistência de pensamentos. É mais uma prova de que há duas Polónias no mesmo território e que ainda há muito a fazer para que o país reme todo para o mesmo lado.
 
A minha opinião? Em primeiro lugar fiquei em casa porque não valia a pena armar-me em carapau de corrida e arriscar a ser varejado por algum grupo de bêbados apregoando a superioridade eslava. Em segundo lugar penso que é pública a minha opinião sobre a homossexualidade, contudo nunca me passou pela cabeça que o arco-íris pudesse ser interpretado como um monumento gay. Gosto dele, empresta colorido a uma zona da cidade sombria e espero que seja reparado rapidamente.

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