São diferentes,
começam quase à mesma hora mas muito mais claras, mesmo que seja
apenas um tímido sol eslavo a clarear a cidade sempre dá outra
energia e ânimo. As manhãs de segunda-feira nunca são recebidas de
braços abertos mas agora são um pouco melhor aceites precisamente
devido ao tímido sol eslavo que ilumina o bairro, descobre flores,
aquece o carro. Nada é mais aborrecido do que sair de casa de noite
e voltar a casa de noite, passei meses sem ver a luz do dia nas
paredes do quarto até que veio o verão para reanimar as hostes.
Em vez da
longa e às vezes enervante viagem para a Universidade, viagem
suspensa devido ao período de férias, o percurso matinal é de 5/7
minutos até ao interface de Młociny no extremo norte de Varsóvia.
Aí se situa não só a estação terminal do metro mas também as
extremidades das carreiras de autocarro, de elétrico, apanha-se lá
o autocarro para Katowice, Poznań, Łódź, Rzeszów, Berlim e
demais cidades polacas, também se apanha o transporte para o infame
aeroporto low-cost de Modlin mas o que mais me agrada neste
interface, além de estar apenas a 10 minutos de autocarro de casa, é
o parque de estacionamento grátis para os beneficiários do passe
social, um parque coberto para mais de mil carros que está à disposição dos utentes das
4:30 às 2:30 e que tem ligação direta para os diversos transportes
públicos da área, luxos das capitais europeias, Varsóvia a primeira da Europa de Leste a dispor de tais estruturas.
O metro serve para quando estou a correr em cima da hora, quase todos os dias porque tenho uma noção de tempo bastante elástica como todo o bom português, mas hoje saí de casa com vagar e por isso só percorri metade do caminho debaixo da terra optando por ir de elétrico até ao trabalho para poder observar as pessoas e os seus gestos. Pude confirmar os lentos mas existentes progressos da construção da segunda linha de metropolitano, especialmente no centro financeiro da cidade - Rotunda das Nações Unidas - mas sobretudo ver e regalar-me com as cores estivais da Cidade Capital mesmo que seja um tímido sol eslavo a dar destaque às sebes e canteiros de relva verde que delimita cada passeio. As largas avenidas projetadas por esquadros de sorumbáticos arquitetos socialistas são sulcadas por composições cada vez mais modernas, ar condicionado que funciona a valer, cadeiras instaladas a 45º para não bater com os joelhos nas costas do assento da frente, carruagens que cheiram a limpo e ajudam a melhorar um pouco o humor daqueles que se preparam para mais uma semana de trabalho. Eu vou de pé à janela, quase o único passageiro que não tem o nariz enfiado num livro ou as orelhas afogadas com auscultadores. Prefiro ver a cidade, descobrir recantos que ainda não conhecia, admirar-me com a grandeza duma mansão antiga ou abrir a boca de choque à passagem dum par de pernas como só esta terra sabe produzir. Não há como contornar esta evidência, sejam encobertas por leggings ou nuas no verão, levemente tapadas por meias de renda no inverno ou saudavelmente ao léu, as pernas da mulher polaca são um património genético deste país que é exibido com garbo acentuando ainda mais os contrastes em que Varsóvia é rica. Só neste país se imagina circular pelos blocos iguais e bocejantes dum bairro como Żoliborz - que ironia, na rua do Padre Popiełuszko - e surgir de repente um par de tenazes de marfim capaz de nos queimar a menina dos olhos se não usarmos óculos de sol. Mesmo este vosso escriba, com quase seis anos de praia, ainda leva estaladas de espanto quando lhe caem os olhos naquelas espadas de louça. Uma coisa parva, como se diz na minha terra.
Tive de voltar a Ursynów para tratar de negócios, uma empresa que estava tão confortavelmente instalada no Centro mudou as suas instalações para um distrito que já habitei em tempos mas que agora não me fica em mão. O autocarro - outra agradável surpresa, o 189 já não é uma cafeteira vomitada que atirava o fumo do escape para dentro do veículo mas sim um moderno e asseado autopullman que me fez recordar as viagens para Lisboa na Mundial Turismo no tempo, não muito remoto, em que não havia autoestrada para Alvalade - deixou-me em Służew para dali apanhar o metro até Imielin, um trajeto que iniciou um processo de repassagem de algumas recordações que encalhou nas bezanas de solteiro muitas vezes sacudidas pelo sino do sinal da estação final, o que era menos mal porque eu morava na penúltima estação. Aproveitei a sombra dum bordo para me esconder do menos tímido sol eslavo de meio-dia para almoçar uma sandes de ovo mexido da qual tive de retirar os pepinos - que merda de costume polaco este de meterem pepinos em tudo o que se coma, estou para saber se também enfiam pepinos nos Corn Flakes - e um iogurte de damasco (não perguntem...).
Agora estou tranquilamente sentadinho num banco no centro da Cidade Capital, mais uma vez a observar a vida das suas pessoas como tanto gosto de fazer. Vieram alguns pombos pedir-me migalhas que não tenho, outros dançam inchados tentando impressionar as fêmeas com bateres de asa, uma senhora com o dobro do meu peso e o quádruplo da minha idade sentou-se num banco em frente e puxou de um cigarro, trouxe um cão tão velho e tão gordo quanto ela que penosamente se arrasta pela praça a farejar não se sabe o quê, um casal de namorados está escondido ao lado esquerdo da praça e parece tão apaixonado que ela nem se importa com a gastroscopia que ele parece fazer-lhe com a língua, alguns bêbados e drogados partilham outro banco com três adoráveis e grisalhas senhoras que não se incomodam com a fedorenta vizinhança e lançam olhares vazios e silenciosos aos miúdos que correm atrás dos pássaros acompanhando a correria com um lento abano de cabeça.
Passou uma morena não muito bonita nem muito esbelta mas com proporções e medidas de encostar às cordas qualquer das alegadas pin-up portuguesas - ou será mais apropriado chamar-lhes pin-down? - que infestam o ar com a sua típica e insuportável mania. Um chuchu que não me importava de conhecer e de lhe
pagar um copo, uma mulher que me fez levantar os olhos do monitor e ver que a praça está agora mais clara, que o tímido sol eslavo saiu de trás das nuvens e derrama ainda mais luz sobre Varsóvia.
Passa uma loura de bandelete, incríveis pernas ajustadas ao comprimento... digo, ao "curtimento" da sua saia, top justo que lhe salienta as gostosas circunferências do busto, passos firmes, o chão parece que salta de emoção ao ser pisado por ela. Os pássaros levantam voo assustados com qualquer coisa talvez com ela, as velhinhas também se levantaram se calhar afrontadas por tamanha exibição de beleza, os namorados continuam a curtir como se não houvesse amanhã, a velhinha trocou o cigarro por um gelado daqueles que parece uma sandes de waffle, os bêbados nem deram por ela passar, continuaram inertes ou cambaleantes no seu limbo de álcool, passa uma segunda loura metida num apertado tailleur preto, cabelo curto estilo Annie Lennox, eu levanto-me e vou curtir o tímido sol eslavo para outra freguesia antes que se me queime a menina dos olhos.
4 comentários:
ESPETACULAR! Rio-me à brava com as tuas descrições da beleza polaca, a qual concordo contigo que só genes desse país conseguem criar! ;)
Estou a planear ainda para o decorrer deste ano me mudar para a capital polaca e espero continuar a ler posts deste nível. E quem sabe até juntar os tugas e jogar uma futebolada convosco, para tirar a barriga de misérias e dizer uns palavrões!
é quando quiseres, desde que não seja em agosto porque aí eu faço sempre o meu retiro algarvio de um mês e não quero saber de desgraças. abraço.
Espetaculo de Post! Mesmo à Farense! As descrições nao poderiam ser melhores
Os brasileiros são podres e favelados mesmo, acham que palavrões fazem parte da vida. A minha "POLSKA" é um país culto e luxuoso seus idiotas. Tomara que todos os seres inferiores da américa latina morram congelados ou afogados no rio Vístula quando forem para lá. Eu amo ser eslavo, e minha raça é abençoada tanto na beleza física quanto no intelectualismo. Fuck you people blacks!!!
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