domingo, 11 de julho de 2010

Dona Polónia e os Seus Vizinhos, vol. 1 - República Checa

Absinto As sete fronteiras da Polónia originam a que tenha muitos vizinhos diferentes, consequentemente muitos povos com mentalidades diferentes. A história ensinou-nos da relação difícil que a Polónia manteve com alguns dos seus vizinhos, mais concretamente a Alemanha e a Rússia / URSS, e das constantes disputas territoriais e políticas que o povo polaco teve de suportar. Hoje em dia as relações são muito menos tensas do que há 60 anos atrás mesmo que haja sempre algum ressentimento, prova disso foi a alegria com que os polacos celebraram o golo de Puyol na meia-final do Mundial no bar onde eu devia ser a única alma a desejar a vitória da Mannschaft. Marcas que as guerras deixaram e que demorarão algum tempo até serem completamente (se é que algum dia serão) apagadas.

Reza a lenda que a Polónia foi criada por um jovem eslavo chamado Lech que tinha dois irmãos: Ćech e Ruś. Um dia estes três irmãos saíram de casa para conquistar terras, Ćech fundou a República Checa, Ruś caminhou mais até encontrar terreno para criar a Rússia e Lech andou até descobrir um ninho de águias. Lech terá considerado esse ninho como um sinal dos deuses e decidiu que aí, mais concretamente em Gniezno, seria a Polónia. A escolha do local está certamente entre as dez piores decisões da História pois sendo a Polónia uma terra plana e de curtos vales é um território ideal para servir de teatro de guerra aos invasores por não dispor de acidentes naturais que sirvam de trincheira ou esconderijo para os indígenas. Por isso Hitler quis fazer o corredor ferroviário Berlim-Moscovo através da Polónia e transformar Varsóvia num apeadeiro. Por isso também é que a Polónia já foi disputada por virtualmente todos os países europeus (hoje mais através do investimento de capital e das manobras da NATO), inclusive pela Suécia que nunca fez mal a ninguém, até ter passado um período da sua história como inexistente por 123 anos a partir de 1795. Por essas e por outras é que todos conhecem a animosidade que os polacos têm para com os russos, recentemente avivada depois do episódio de Smoleńsk no qual se aventaram de novo as teorias de que Moscovo estaria por trás de novo banho de sangue polaco. No entanto é interessante olhar para a relação que os polacos têm com o seus restantes primos eslavos, como os checos.

Para os polacos os checos são como um irmão mais novo ligeiramente tolinho e demasiado liberal e descontraído, eles são viciados em hóquei no gelo e não ligam muito aos saltos de esqui como na Polónia. Um checo só se preocupa com a sua cervejinha e com levar o dia-a-dia da forma mais tranquila possível porque não tem espírito de combatente. O checo fala uma linguagem divertida, parece-se um pouco com a língua certa (polaco) mas tem palavras estranhas e pronúncia algo infantil. O polaco não perdoa a atitude checa perante a invasão Nazi pois enquanto os polacos se juntaram e lutaram até ao último suspiro os checos renderam-se sem resistência – sem derramamento de sangue nem destruição de cidades – mas, no ponto de vista polaco, sem honra. Não lutaram pela sua pátria, não defenderam a sua identidade, limitaram a abrir as pernas para o invasor germânico. A Checoslováquia estava descansadinha no seu bar a beber a sua caneca quando os nazis irromperam. O checo, antevendo a inevitável prisão, perguntou fleumaticamente se podia ao menos acabar a Staropramen. O polaco não compreende isto, não percebe porque o checo não se levantou imediatamente a gritar palavrões contra os “porcos nazis” e não reuniu um grupo de insurrectos para dar cabo da cabeça aos alemães, provavelmente um grupo cuja resistência duraria até à primeira bala ser disparada. O checo não quis morrer inutilmente e adoptou uma postura de resistência silenciosa.

Ilustrativa é a cena duma comédia checa que retrata Praga no tempo da ocupação nazi, num restaurante de luxo onde trabalhava um chefe-de-sala que falava 7 idiomas diferentes como francês, japonês, inglês, alemão, etc. Os nazis apoderaram-se do restaurante mantendo o staff pois estes eram fundamentais na forma como a casa funcionava, Símbolos checos incluindo o mencionado chefe-de-sala, peão imprescindível no atendimento ao cliente. Certo dia entra um oficial alemão no restaurante, senta-se à mesa e dirige-se ao dito funcionário fazendo o pedido em alemão. O empregado finge não perceber e o nazi muda o registo para francês seguida de novo sinal de ignorância por parte do chefe-de-sala. O alemão, enervado, faz o pedido em mais duas ou três línguas diferentes sempre recebido com mostras de desconhecimento. Finalmente o oficial nazi diz que não sabe falar checo. Aí, fleumático, o empregado de mesa checo encolhe os ombros e afasta-se da mesa deixando o germânico a falar sozinho.

No entanto os polacos têm boas relações com os vizinhos checos e mesmo com os eslovacos, não fazendo muita distinção entre uns e outros. Para o polaco, checo e eslovaco é checoslovaco, farinha do mesmo saco e com pouco que os diferencie mas são povos que se dão bem. O mesmo não acontece com os bielorrussos ou ucranianos, tema sobre o qual escreverei em breve.

As miúdas? Nisso a Polónia é uma super-potência, esqueçam o resto…

2 comentários:

ryan disse...

Em termos de belezas naturais humanas as miudas dao baile a tudo o que e Europeu... pelos menos ai sao as melhores

Geraldo Geraldes disse...

Entre as muitas diferenças entre a República Checa e a Polónia, uma salta à vista: a crença num Deus. Na Europa os Checos são os segundos que menos acreditam numa entidade suprema.
http://en.wikipedia.org/wiki/Religion_in_Europe.
Claro que este facto só por si, está na génese das muitas diferenças que os polacos sentem relativamente aos libertinos checos