Ok, esta é a quente, com algumas cervejas a bordo mas se não mando isto cá para fora não consigo dormir descansado. Portanto, estimado leitor, considere esta entrada com a importância que lhe aprouver.
Vão à merda!
Perder contra a Espanha não tem nada de mais para 193 países deste planeta mas para nós tem e muito por razões que se prendem com o passado histórico destes dois países e pela rivalidade que sempre se exalta nestas circunstâncias. Perder contra a Espanha é mau para Portugal porque aceitar que os nossos vizinhos (hermanos só na diplomacia, vejam lá se eles facilitam nos cursos de água dos rios quando há seca na Península Ibérica) são melhores que nós, embora tenham melhores individualidades, que têm melhor coletivo e melhor orientação técnica, digo, que não têm desorientação técnica é sempre difícil dum bom português admitir. Mas admite-se. Perder contra a Espanha é mau mas pode-se minimamente aceitar à luz destes argumentos: São melhores, pronto. Isto chega?
Talvez chegasse se não fosse acompanhado duma série de ajudas de custo perfeitamente incompreensíveis. Não ponho em causa a vontade dos jogadores em ganhar a partida mas quando temos um timoneiro que, a perder por um golo com meia hora de jogo pela frente, troca de médios defensivos e não arrisca um centímetro no ataque, isso em futebolês diz-se “entregar o ouro ao bandido”. Não tivemos presença na área espanhola porque as bolas não chegaram lá em qualidade, quando Hugo Almeida saiu perdemos a única unidade de choque que podia discutir bolas com Puyol e Piqué, convidámos a Espanha a pressionar, apostámos nas corridas loucas de Ronaldo e Simão sozinhos contra o Mundo. Sofremos o golo (fora-de-jogo mas por uma unha negra) de Villa e a nossa equipa técnica resolve dar o golpe de asa: Para dar estratégia ao jogo ofensivo, Pedro Mendes por Pepe e para empurrar os espanhóis lá para trás, Liedson por Simão. Deco, mesmo de cadeira de rodas, era a única alternativa para pautar jogo e ficou a definhar no banco. “Ai, ele entrava e não jogava um caracol!” Possivelmente, mas nunca saberemos porque ele nem sequer teve hipóteses de fazer o que tem feito desde 2004. Mexer os cordelinhos do meio-campo português. Ficou sentado a ver a caravela naufragar, impotente, sabendo que ele podia ter uma bóia onde alguém se pudesse agarrar.
Não percebi. Ninguém percebeu. Mais uma vez cheguei à conclusão que não percebo nada de futebol porque sempre pensei que nuns oitavos de final de um campeonato do mundo de futebol, um jogo a eliminar, perder por 1 era igual a perder por 10 e que aguentar o 0-1 era o mesmo que levar 3 ou 4 na pá desde que procurássemos virar o jogo. A Inglaterra fê-lo contra a Alemanha e perdeu. É verdade, mas foi heróica, deu o litro, pôs a carne toda no assador mas as coisas não lhe correram de feição. Nada a criticar. Temos exemplos no nosso passado recente em que Portugal foi para cima de adversários teoricamente superiores como em 2000, em 2004 e 2006, nunca nos encolhemos e mostramos o nosso caráter, tentámos ser heróis e conseguimos. Fomos dignos, merecedores da nação que impulsionava a sua Seleção para o êxito que não foi alcançado mas cujo esforço não caiu em desgraça junto dos portugueses.
Hoje não se viu nada disso, vimos jogadores que queriam mas não podiam porque não conseguiam e porque não foram ajudados. Faltou o que faltava desde o início: Liderança e personalidade. Não temos um comandante dentro de campo (comparar Ronaldo a Figo é o mesmo que comparar Paris Hilton a Madonna) e fora do campo a coisa fia ainda mais fino, não há talento a ler o jogo, a intervir, a imprimir a nota de diferença que define os bons treinadores. Portugal foi um bando de bons rapazes abnegados mas incapazes de qualquer golpe de asa característico dos grandes futebolistas. Faltou-nos um Maniche ou um Costinha porque não quero sequer tocar nos nomes de Rui Costa ou Figo.
Estamos orfãos. Orfãos de qualidade, de comando, de rumo. Substituimos a “Geração de Ouro” pela “Geração dos Brincos de Ouro” e não temos ninguém que ponha a casa em ordem porque continua a haver porcaria para ser varrida. Perdão, corrijo. Porcaria houve há 17 anos atrás, agora há merda que nem com um Nilfisk se dá limpa.
E por falar nisso. Vão à merda, pá (menos o Fábio Coentrão e o Eduardo)! Assim não há quem vos possa apoiar.
2 comentários:
Como eu te compreendo. Mas acho que todo este cenario ja era esperado. Na eliminatoria vimos o que vimos e nos jogos de preparacao foi o que foi. Esperar por melhor so se o Sr. Queiros em tao pouco tempo tivesse mudado.
Deixo aqui umas notas:
1 - A culpa nao e toda do Queiros. O Sr. Madail poderia ter sido mais perspicaz na escolha de um substituto de Scolari. Quem nao queria um estrangeiro tem aqui a resposta. Neste momento nao temos treinadores de qualidade disponiveis para a nossa seleccao. Portanto nao tenhamos ilusoes.
2 - Precisamos com urgencia de mudar a mentalidade dos dirigentes dos clubes. Comprar jogadores estrangeiros a granel esta a dar em problemas. Depois temos de naturalizar porque "nao temos em stock". Nada contra Deco (muito obrigado a ele), Liedson ou Pepe. Eles foram chamados e la foram. Mas precisamos de formar mais em vez de comprar qualidade duvidosa.
3 - Ronaldo talvez deveria pensar em estar fora da seleccao uns jogos. Talvez terminasse de vez uma Ronaldo-dependencia de treinadores e jogadores.
4 - Perder com a Alemanha doeu-me em 2008 (foram 3 se nao estou em erro) mas perder com Espanha, com tens no teu comentario, ainda que apenas 1-0 doi mais... pese ainda a maneira de jogar.
5 - Porra que a Franca tava ja fora e poderiamos pensar em ir ainda mais longe;)
um estrangeiro a treinar. concordo até porque mourinho não tem a seleção no seu horizonte nos próximos anos.
quanto à saída de ronaldo, já não vou por aí mas defendo a retirada da braçadeira de capitão para que ele desça a terra, para que tenha a noção que é um jogador como os outros e que tenha em consideração que a vedeta é o grupo.
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