quinta-feira, 29 de abril de 2010

À Pressa

herança Foi publicado um estudo num jornal polaco que revela que as pessoas que andam mais depressa na Polónia são os residentes em Varsóvia. Compararam o ritmo da passada de vários habitantes de diferentes cidades da Polónia e a conclusão é de que os varsovianos são os mais apressados, nada de espantar numa cidade que vive vertiginosamente e sem tempo para nada.

Já aqui mencionei a voragem que consome os varsovianos e o espanto que tal me causa, principalmente porque venho duma terra onde se ouve o barulho das taganas a saltar na água da Doca e onde há tempo para ir aos sítios a pé. Em Varsóvia as pessoas carregam no botão que fecha as portas dos elevadores para pouparem 3 segundos, os varsovianos disputam centímetros enquanto esperam que o semáforo dos peões mude para verde, esfregam ombros para ganhar melhor posição na entrada para o metropolitano, completam as frases daqueles que hesitam na palavra. A cidade nova engole a cidade antiga, empurra os prédios velhos, chuta o passado para longe, às vezes até atropela a herança para dar lugar ao conforto e ao consumo. O segundo está mais caro que o petróleo e não se pode desperdiçar tempo, uma corrida constante contra um adversário que chega sempre primeiro. Uma corrida escusada entre coelhos brancos, escusada, digo eu, porque não se consegue ganhar à vida, uma conclusão já foi tirada por Woody Allen há muito tempo.

Quando dás por ti estás velho, tens netos ou não, olhas para trás e vês que levaste uma vida quixotesca e que os moinhos de vento são cada vez maiores. Tiveste o teu fiel escudeiro ou não, encontraste (ou não) a Dulcineia que procuravas, um a um foste furando os dias desse painel que é o calendário que cada um tem. Terá valido a pena, terás fechado o círculo, terás orgulho no que fizeste?

Eu não quero chegar ao ponto de ter de tirar essa conclusão à pressa, de chegar ao momento e ter de exclamar “Já?!”, de pedir mais minutosCafé apressado para dizer ou fazer mais alguma coisa que devesse ter dito ou feito. Não, não quero engolir o café à pressa e queimar a língua porque queria atravessar a rua enquanto estava verde quando posso esperar e ir beberricando o meu capuccino matinal tranquilamente a caminho do trabalho. Eu quero tocar a vida para a frente no ritmo que a Natureza me deu e não quero acelerar o pitch para velocidades que não consiga suportar, o meu tio viveu assim, durou quase 90 anos e morreu na sua casa a dar vereditos. Quando o Criador inventou o tempo, inventou bastante.

Varsóvia é engraçada, até as casas comerciais têm nomes que instigam literalmente, à pressa.

2 comentários:

dirceu disse...

bom, acho que uma boa capital de um país tem que ter esse ritmo. Se querem sosssego, vão para o Tatras ou os lagos da Masúria

PM Misha disse...

dirceu,
porque uma boa capital de país tem de ter esse ritmo é que eu valorizo estar parado enquanto os outros besouram-se até caírem. sabe tão bem...