Ninguém jamais vencerá a guerra dos sexos: há muita confraternização entre os inimigos.
(Henry Kissinger)
Ontem fui, a convite de duas alunas, assistir a uma actuação do Carlos do Carmo, ao vivo, em Kazimierz Dolny, uma simpátiva vila à beira do Wisła que é o escape de fim-de-semana preferido para o Jet-Set de Varsóvia. O concerto foi no castelo de Kazimierz o nosso fadista conquistou o público com a sua habitual simpatia e interactividade (dirigindo-se aos polacos em inglês) mas também arrebatou-os com sentidas interpretações da nossa canção nacional, o Fado, não apenas cantando-as mas explicando um pouco do que o Fado se trata, traçando um interessante paralelo entre a opressão que os polacos sentiram nas décadas em que durou o regime socialista e o "país de cócoras" que fomos ao longo do Estado Novo. Política à parte, Carlos do Carmo soube ser um verdadeiro expoente ~da Cultura portuguesa no estrangeiro e as conversas que ouvi à saída do espectáculo deram para perceber que os polacos entendem agora o Fado de outra maneira, que não é apenas aquela canção triste e nostálgica dos portugueses sofridos mas que também é alegre e pode exaltar o amor. Foi um banho de Portugal dado num cenário fantástico e que muito me orgulhou, a cara de surpresa do público vizinho sempre que me via trautear os refrões era a prova de que eles não esperavam ter tantos portugueses ali presentes e ficaram agradados.
Findo o concerto fez-se o regresso a Varsóvia, onde chegámos às 1:30. Já preparado para atirar o corpo cansado para a cama recebo um sms dum amigo, chamando-me para alto festão num bar da Baixa. Lá fui.
Encontrei uma mesa com duas polacas, esse meu amigo português mais um brasileiro casado com uma delas. A conversa rodava sob o tema da eterna Guerra dos Sexos, porque é que as mulheres são assim e os homens assado. Ouvi uma explicação dada pelo tuga:
- O cérebro dos homens é como uma cómoda com diversas gavetas onde eles ordenam e arrumas as suas idéias. Há a gaveta do trabalho, a gaveta do sexo, a do dinheiro, da família, do futebol, há muitas gavetas mas a mais importante de todas é a gaveta do nada. Nessa gaveta não há mesmo nada e um homem pode abrir essa gaveta mantendo-a aberta uma data de tempo. Por isso, quando a mulher pergunta ao homem "o que se passa contigo?" e o homem responde "nada" é porque realmente não se passa nada. É apenas a gaveta do nada que está aberta. Já as mulheres têm o cérebro como uma amálgama de pequenos pedaços de plasticina, todos misturados e interligados. Não há espaços vazios, não existe aparente ordem, tudo é turbulência, necessidade, urgência e essa falta de espaços vazios impede que elas percebam o nada masculino. Não conseguem compreender, não conseguem processar, pessoalizam, culpabilizam, entram em pânicoe é o fim da picada.
Ouvi-o até ao fim e bebi dois golos de cerveja em gesto de plena concordância. A polaca à minha frente ajeita o fio que tem ao pescoço e olha-me perguntando "A sério?", misto de cinismo e provocação, aquele olhar que já vou conhecendo e que traz água no bico. Bato ruidosamente o fundo do copo na mesa, atiro-me para as costas do maple e entre dois amendoins sentenciono:
"Minha querida, tal como vocês dizem, nós somos todos iguais."
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