A coerência é a virtude dos imbecis
Oscar Wilde
Provavelmente serei um imbecil, não gosto de ser apanhado em falso nem em contradição e por esse motivo não faço julgamentos nem aponto dedos a ninguém. Mesmo quando a falha do parceiro é gritante, mesmo quando o vejo a criticar aquilo que há pouco tempo tinha aplaudido. Serve esta introdução para comentar o agitado defeso futebolístico português de 2015.
Ponto prévio: O processo de despedimento de Marco Silva é discutível. Eu próprio tenho alguma dificuldade em avaliar a postura do Sporting nesta matéria porque não estou habituado a ver o Sporting comportar-se duma maneira tão aguerrida, quase cruel. Regra geral o Sporting é brando, uma brandura que tem origem nas raízes elitistas nobres do clube. As pessoas educadas não falam alto, não têm gestos bruscos e argumentar 'justa causa' para despedir um treinador querido pelos sportinguistas - apesar do pioneirismo dos despedimentos por justa causa pertencer ao rival da Segunda Circular - surpreendeu o universo leonino. Por outro lado, é um facto indesmentível que o Presidente do Sporting zelou pelos interesses do clube e fê-lo de forma acirrada ao mandar a conduta à fava espremendo a paciência da parte beligerante, que aconteceu ser o tal treinador querido pelos sportinguistas. Veja-se por que prisma for, o Sporting foi defendido pelo seu líder de forma intransigente e no fundo é para isso que o Presidente lá está.
Depois, decidiu-se contratar um treinador que estava em fim de vínculo com o maior rival da sua entidade patronal. Uma situação incomum mas que não obstante ter sido feita com clareza e legalidade - algumas individualidades até acrescentam em surdina que com a conivência do presidente encarnado - suscitou violenta reação de variados quadrantes dos adeptos e simpatizantes do clube da Luz. De ser apodado de 'Judas' até ver a sua imagem apagada das conquistas assinadas na última temporada, Jorge Jesus viu o seu inquestionável protagonismo ser minimizado como se o bicampeonato, façanha que 'o maior clube do mundo' não conseguia há mais de três décadas, tivesse sido alcançado com a equipa jogando em piloto automático.
As mesmas vozes que se ergueram para condenar o comportamento dos dirigentes do Sporting na condução do 'Caso Marco Silva' silenciaram-se cúmplices na campanha de branqueamento dos méritos de Jorge Jesus, treinador que só tinha predicados e que subitamente passou a possuir apenas defeitos. Em Carnide era bestial, no Lumiar tornou-se besta.
São compreensíveis as dores encarnadas sentidas por se perder o timoneiro em favor duma nau rival, especialmente quando o timoneiro teve arte para otimizar o rendimento da tripulação a índices que lhes permitiu chegar a lugares há muito tempo arredados. É compreensível o desnorte que reina na Luz por se sentir que a equipa não vai render o mesmo que nos últimos anos como prova a recente exibição da Supertaça 2015 disputada no Estádio Algarve. É compreensível a frustração da instituição de Carnide por ter visto a mulher da sua vida fugir com o vizinho do lado e vê-la feliz. É compreensível a confusão que domina presentemente os espíritos benfiquistas mas essa é uma característica que já consta no DNA, como prova a confusão do ano de fundação e da contabilização de títulos (veja-se a capa da revista Record de 93/94 onde se assinala o 27º campeonato nacional conquistado pelos encarnados que somados aos de 2004/05, 09/10, 13/14 e 14/15 daria na minha modesta matemática 31 títulos, número que contrasta com o lema adotado para esta época).
O que não é compreensível, pelo menos para este imbecil, é a incoerência patenteada ao criticar ferozmente a postura dos outros quando a que se tem na própria casa não é minimamente melhor.
Ou talvez seja um sinal de que realmente o Sporting deixou de ser a coletividade do 'croquete', isto pode ainda estar a criar comichões muita gente e algumas pessoas poderão não saber ainda como reagir a esta nova realidade. O futebol é o momento e o momento presente não é o mesmo momento de há três meses. Engulam o sapo, preparem-se para a travessia, lidem com isso.
Ou talvez seja um sinal de que realmente o Sporting deixou de ser a coletividade do 'croquete', isto pode ainda estar a criar comichões muita gente e algumas pessoas poderão não saber ainda como reagir a esta nova realidade. O futebol é o momento e o momento presente não é o mesmo momento de há três meses. Engulam o sapo, preparem-se para a travessia, lidem com isso.
PS – Se calhar o momento até é o mesmo de há três meses. O Sporting a triunfar, Jesus a ganhar troféus, hmmm…
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