Porque já há muito tempo não falava do Sporting e porque o momento atual do clube levanta algumas suspeitas, entendi que devia consagrar um par de linhas ao meu grande amor.
O adepto de futebol tem por regra memória muito curta e apaga com rapidez e facilidade os registos de temporadas anteriores, especialmente quando esses registos são negativos. Parece que há muito sportinguista a padecer do mal e já esqueceu o que aconteceu há apenas pouco mais de dois anos, altura em que o Sporting rubricou a pior época da sua centenária história, tanto no campo desportivo como em termos de gestão. Ninguém prognosticava uma recuperação a curto/médio prazo para aquele Sporting bisonho onde pontificavam nomes como Boulahrouz, Pranjić, ou Gelson Fernandes, um Sporting horroroso herdado do de Torsiglieri, Polga, ou Maniche. Contra os meus próprios prognósticos, que advogava uma solução tipo Fiorentina – refundação do clube para recomeçar com dívida zero, o Sporting renasceu e apresenta agora índices animadores de recuperação desportiva e financeira, qualificou-se diretamente para a fase de grupos da Liga dos Campeões quando há pouco mais de dois anos pairou o inimaginável fantasma da despromoção em Alvalade. Falava-se em 'belenensização', 'boavistização', 'riverplatização' do Sporting, falências e Planos de Recuperação, entregar o clube ao banco (e que rico banco...) e definhar em banho-maria.
Resulta que esta noite o Sporting vai enfrentar o Chelsea num jogo para a contar para a mais prestigiada prova de clubes de futebol do mundo. O sportinguista, que há pouco mais de dois anos pedia apenas entrega e garra aos seus atletas, que aspirava apenas a que os atletas dignificassem o leão rampante que levavam ao peito, esse sportinguista vai poder ver o seu emblema bater-se com os plantéis do mundo, vai poder ver o seu estádio acolher os melhores treinadores do mundo, vai poder ver os seus jogadores medir forças com as melhores equipas do mundo. Pelo meio iniciou uma batalha pioneira contra o parasitismo dos chamados 'fundos financeiros' que entretanto a FIFA adotou. Está sadio, confiante e os adeptos estão com a equipa, acompanham-na. Tenho amigos que saíram de Faro na sexta par a verem o clássico, voltaram às suas casas e já se meteram outra vez à estrada para estarem presentes no regresso da Champions a Alvalade. Quem poderia imaginar um cenário destes há pouco mais de dois anos?
Só há um homem mais fatalista que o português, é o sportinguista. Clube maldito, equipa sem sorte, perseguido pelos árbitros, o fado leonino. Esse fatalismo acaba hoje! Esta noite dá-se o primeiro passo na grande caminhada do Sporting até ocupar o lugar que lhe pertence. Mesmo que percamos hoje, não mais o Sporting mergulhará nas trevas, não mais o Sporting será desrespeitado, não mais o Sporting cairá na vulgaridade. Mesmo que o Cédric leve trezentas nozadas do Hazard, mesmo que o Diego Costa ate o Maurício e o Sarr no mesmo nó, mesmo que o Fàbregas passe por cima do Adrien, mesmo que o Terry varra o Slimani, mesmo que o Ivanović seque o Nani, mesmo que o Courtois não sue as luvas, isso não abala a minha férrea convicção que o Sporting está no caminho de recuperar o prestígio, a ilusão e aquilo que faz do Leão o meu clube. Há liderança, há crença, há ilusão. Há o que não havia há pouco mais de dois anos e isso já significa haver muito.
Agora sim, o Sporting está de volta!
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