quinta-feira, 10 de julho de 2014

Argentina!

"Brasil, decime qué se siente,

tener en casa a tu papá.

Te juro que aunque pasen los años,

nunca nos vamos a olvidar.

Que El Diego los gambeteó, El Cani los vacunó, están llorando desde Italia hasta hoy...

A Messi lo van a ver, la Copa que va a traer, Maradona es más grande que Pelé".

(este texto é dedicado à geração farense da primeira metade da década de 70 e a todos os que comigo chutaram bolas na Escola do Carmo)

D10S Soviético, Artur, Zé Gato, Ruben, Fábio, Samora, Paulinho Santana, Pedro Gancho, Batatinha, Pasteleiro, Adegas, Tozé Patas-de-Urso, Zé Mosca, Ganso, Amador, Paulo Gomes, Joca, Rui, Posta de Carne. Estes eram alguns dos jovens que apareciam ao sábado e ao domingo para jogar à bola na Escola do Carmo. O Artur morava mais perto e às vezes ia buscá-lo a casa logo depois do almoço para aquecer as virilhas jogando baliza-a-baliza, às vezes eu saía mais atrasado e corria desalmado pela rua Cunha Matos abaixo até vislumbrar o alcatrão do pátio da escola, fazendo figas para que não estivessem mais que nove moços para poder jogar logo e não ter de esperar pelo bota-fora. A dose de bola do fim-de-semana era reforçada e transformada em diária durante o verão, a malta ia à praia pelas 10 ou 11 horas (os algarvios dos anos 80 não passavam cartão a cuidados de exposição solar) mas voltava às 15 ou 16 horas a tempo de fazer pelo menos quatro horas de pelada. Durante o verão de 1986 a rotina não era diferente… a não ser durante o Mundial do México, quando jogava a Argentina.

Aí parava tudo. Ao grito ‘Vai começar a Argentina!’ da mãe do Paulinho Santana que morava atrás duma das balizas, a bola de catchumbo deixava de saltar e o campo onde 10 suados meninos corriam, gritavam e praguejavam era evacuado em menos de nada. Terminava a peladinha, tudo regressando a casa em alta velocidade para ver o ‘Pelusa’ jogar, era como ver desenhos animados, circo ou um espetáculo de ilusionismo. O 10 albiceleste era incrível e por isso todos nós apoiávamos a seleção argentina naquele Mundial, se calhar até se jogassem contra Portugal!

A Argentina do tango triste e melancólico, dos bairros portenhos e das pampas, do chimarrão e do asado. Quanta da sua alma está representada na seleção, quanto do seu ser está espelhado no apoio dos inchas.

Maradona era a Escola do Carmo num jogador de futebol. Tinha aprendido a jogar no laboratório da rua, como nós às vezes jogávamos com latas de coca-cola a servir de bola e mochilas de escola como postes das balizas. Via-se nele a habilidade do Fábio demonstrada no segundo golo contra a Inglaterra – o golo do século, a picardia do Zé Gato como no primeiro golo aos ingleses em que D10s salta como um coelho na área inglesa e põe a bola com a mão nas redes do dormente Shilton, a resistência do Artur patenteada na maneira como sempre recuperava das entradas que sofria, a força do Samora vista na arrancada que resultou no segundo golo contra os belgas e mais a potência do Joca, a magia do Paulo Gomes, a ratice do Amador, a competitividade do Ganso, a robustez do Posta de Carne. Já naquele tempo havia Laudrup mas era muito manso, Platini mas era muito francês, Boniek mas era muito cavalheiro, Rummenigge (o Karl-Heinz) mas era pouco sanguíneo, Zico mas era pouco venenoso, Scifo mas era muito frágil. Nenhum reunia todas as qualidades que cada um de nós apreciava num futebolista, Maradona não só conciliava todas essas qualidades em 1,66 de pessoa mas exponenciava-as como ninguém.

O ‘barrilete cósmico’ marcou a nossa infância e a nossa concecão de futebol. Maradona transformou o futebol num representação teatral, graciosa bailarina em bicos de pés que quase flutuava no relvado ou cão raivoso (atenção aos 0:34’’) se lhe pisavam os calos, criança de sorriso rasgado ou de cólera incontida após um golo. Maradona amava a sua seleção como nós amamos a mulher da nossa vida, carregou o seu país ao colo até atingir a maior consagração do futebol mundial, provou que aos seres humanos determinados não se consentem limites, trouxe ilusão e encanto ao meu passatempo preferido, coloriu a minha infância.

Foi, é e será o melhor jogador de futebol de todos os tempos e é por isso (e só por isso já basta) que apoiarei sempre a Argentina, desde que não jogue com Portugal.

 

PS – Impossível evitar os pêlos em pé e uma lágrima comovida ao ver os filmes do Golo do Século e da Gloriosa. Tremendo!

PS II – Eu? Não tinha nada do Maradona, tinha mais do Dasaev.

4 comentários:

Andre disse...

Mentalidade de colonizador inconsciente. Torcendo para a colonia do maior inimigo, por causa de um jogador de bola. Torca logo pela espanha e seja feliz. Perdem bem menos.

PM Misha disse...

http://www.gadoo.com.br/esportes/derrota-de-portugal-para-alemanha-vira-motivo-de-zoacao-na-internet/

O quê?

A disse...

A gozacao acontece em todos os jogos e com todos os times, inclusive a selecao brasileira (80% das gozacoes foram criadas pelos proprios brasileiros). Maradona foi so um excelente jogador, como outros na historia do futebol, infelizmente com um caracter duvidoso e nascido num pais que se acha alguma coisa no futebol, mas tem somente dois titulos e produz 1 craque a cada duas geracoes, sendo que o atual praticamente nao morou la. Na realidade so produziu 1 craque de verdade em toda sua historia, esse ai que comentamos. Que de maneira alguma foi o maior de todos os tempos, simplesmente o maior do seu tempo.

PM Misha disse...

aceito a sua opinião de que diego não é o melhor jogador de sempre, a discussão não é pacífica e até há quem diga que foi di stéfano - outro craque produzido num país que é alguma coisa no futebol (dois títulos mundiais e 14 continentais são alguma coisa).
não discuto o caráter dos homens, maradona e pelé não são cidadãos exemplares para os nossos filhos, nem alinho em teorias bolorentas baseadas no colonianismo como o nosso camarada acima insinuou, por ironia genial ou desonestidade/limitação intelectual. refiro-me apenas ao que maradona patenteou e logrou alcançar enquanto futebolista numa seleção e clube medianos e sempre odiado pela maioria, sempre fora da sua zona de conforto, sempre em confronto com o 'establishment', sempre com má imprensa.
e o que ele fez nessas condições eu nunca vi, e muito provavelmente nunca verei, mais nenhum fazer.