quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Postais da Polónia - 16

Zakopane Não era um preto de cabeleira loura nem um branco de carapinha como se dizia no início dos anos 80 sobre as coisas que fugiam ao convencional. Era apenas um filho da Praia de Faro e do Largo da Caganita que andava na cordilheira dos Tatras no último fim de semana, um corpo estranho entre seres e pessoas habituados aos rigores da temperatura e da altitude, um moço mais dado e habituado a estender-se preguiçosamente na areia a apanhar sol do que descer montanhas cobertas de neve tapado dos pés à cabeça. O meu irmão John organizou um fim de semana para os amigos em Zakopane, vila do sul da Polónia alcunhada de "Capital Polaca de Inverno".

Zakopane é residência fixa de aprox. 25.000 pessoas, número que aumenta substancialmente durante a época da neve com particular incidência para os fins de semana e os feriados de maio chegando a subir dez vezes a população habitual. É uma terra pitoresca com chalésOscypek de telhados inclinados, ruas estreitas e escorregadias onde os carros se deslocam devagar para não derraparem no gelo. Zakopane tem uma oferta turística interessante com destaque para o aluguel de material de desportos de inverno (fatos, esquis, capacetes, etc.), a feira onde se vendem artigos típicos da região como peças de artesanato, roupas montanhesas ou o delicioso oscypek (queijo de leite de cabra) e a gastronomia das montanhas onde as panquecas de batata com cogumelos, as trutas e os joelhos de porco marinados ocupam o topo das preferências. Também o vosso escriba é apreciador das especialidades da montanha e aconselha qualquer uma destas iguarias sem reservas, no entanto constatei que mesmo 1500 e tal dias depois de ter vindo para este país há coisas que ainda não me passam pelo nó da sopa como a pasta de rábano que serve de guarnição ao pão ou os venenosos pepinos fermentados que são piores que chupar gomos de limão a sangue-frio. Isso não anula o prazer de ser servido travessas opulentas de carne com batatas por funcionários vestidos a rigor em restaurantes castiços onde violinos e pianolas animam a clientela que brinda com imperiais de litro ao estilo de vida montanhês. Depois dum suculento festim deu-se a maratona da vodca, corridas vertiginosas de garrafas, uma loucura etílica na qual nove marmanjos aspiraram meia dúzia de frascos de aguardente de batata não contando as cervejas que serviam para acalmar a úlcera entre os penáltis. O resultado foi uma sequência de fotografias engraçadas (ou comprometedoras, conforme o ponto de vista) e uma mão-cheia de carraspanas rebolando ladeira abaixo e divulgadas nas redes sociais da moda, nem por isso pior gozadas. Aí sim, desfrutei do Montanheses (Gorale)ar da montanha, foi o rir com a malta que era a nossa e outra que se foi juntando ao ponto de acabar a noite a discutir gramática inglesa com uma professora da língua, dois belfos da bebida que tentavam elaborar compêndios duma matéria que naquele momento era impossível debater, um pagode de rir.

Zakopane é bonito de se ver, uma vila incrustada no vale de várias montanhas e com diversos cumes brancos de onde se vislumbram esquiadores descendo as suas encostas e que decoram a localidade como papel de parede, uma paisagem bonita e imponente, a Natureza em estado cru. É uma imagem completamente oposta à dos prédios cinzentos da Cidade Capital ou do areal dourado do Algarve, só por isso já merece a visita. Apesar das 5:30 horas que o carro leva desde Varsóvia e das ultrabaixas temperaturas, potenciadas pelo vento que não parou de soprar todo o fim de semana, adorei a estadia nos Tatras e mal posso esperar pela próxima oportunidade.

2 comentários:

ryan disse...

Para mim uma das melhores localidades para o Turismo de Montanha. Todos os anos vou fora do rebuliço dos fins de semana. Este ano fiz uma pausa porque foi para o hemisfério sul para escapar um pouco a tradição e também para fugir ao frio que nos aperta. Então a partir de cá um abraço para os gelos da Polónia

João Tavares disse...

E é a minha residencia fixa sempre que vou à Polónia, a minha namorada é natural de Zakopane e para mim... é simplesmente um lugar unico, a minha segunda casa.

Agora vivemos juntos em Lisboa, mas já tenho saudades das montanhas. :)

Abraço