Comecei o dia como nos outros dias de inverno polaco, enfiado num grosso sobretudo e enrolado no cachecol que me protege a garganta inflamada que trouxe de Praga. Sacudi os que queriam meter-se no mesmo metro quadrado de metropolitano que eu ocupava e iniciei o dia de trabalho no escritório duma seguradora a discutir eutanásia em inglês. Um tema adequado a um dia que se quer ainda de recuperação da grandiosa budêra que apanhei na quarta à noite.
O elétrico levou-me ao centro da cidade, à estação do costume que fica mesmo junto ao Palácio da Cultura. O imponente edifício deu-me uns bons-dias muito graves e, por entre a névoa matinal, os ponteiros do seu relógio apontam-me a direção que devo seguir, para a escola. Antes ainda, uma luva branca estendeu-me o Metro para que eu conheça as frescas da cidade, do país e do mundo. Diz que o Mickey Rourke esperou 30 anos para ter um papel como o do "The Wrestler" mas não gosto do aspeto dele, está inchado e acusa no rosto a erosão dos excessos que viveu.
Passei pelo Sezam para comprar folhados de salsicha e iogurtes para o pequeno-almoço, vi senhores de idade a beberricar chá quente e uma velhinha de luvas rotas a vender flores. Gostaria de ter alguém a quem pudésse oferecer flores para comprar um ramo e poder dar alguns zlotys a esta senhora sem que parecesse esmola, porém entrei no supermercado e fui às compras. A senhora da caixa pediu-me trocado e como eu não tivésse propus-lhe que pagásse com multibanco. Este diálogo saíu-me num polaco tão puro e escorreito que até a mim surpreendeu. Uma miúda de blusa rosa justa às finas ancas e sorriso louro riu-se das minhas atrapalhações com os sacos de plástico e jornal, saí da loja e sorri também à senhora das flores. Ela virou-me a cara.
Cheguei à escola, liguei o portátil, e bebi o iogurte. Li as notícias em polaco, em 100 coisas escritas percebo 40 e das 60 novas consigo aprender 3 ou 4. Já não é mau. Cheguei à parte desportiva e verifiquei que a Legia joga hoje à noite com o Górnik Zabrze e que o Chinyama já está recuperado. O jogo é fundamental para a Legia continuar na perseguição ao Lech que está em 1º com 3 pontos de avanço. Passei os olhos pelos e-mails mas não havia nada de interessante, regressei ao jornal polaco por 2 minutos antes de levantar a cabeça e perguntar a mim mesmo:
Mas porque é que eu estou preocupado com a recuperação do Chinyama?!
1 comentário:
direi assim... porreiro pá. Pegas em jornais polacos e consegues ler... e eu tanto preocupado com o que passa lá na terra. Os jornais polacos passam-me ao lado mas ando a fazer um esforço para entrar dentro deste emaranhado de notícias da Polónia. Passa-se muita coisa por cá mas eu nem sei bem o que é.
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