Já há muito tempo que não passava umas férias tão boas em Faro. Apresentei a minha cidade-berço à namorada, ela conheceu os meus amigos de infância e a minha família, curtimos um tempo que convidava constantemente a banhos de sol e de sal, participámos naquela que é para mim a melhor festa do Algarve (Columbus Boat Party) e desfrutámos imenso de Faro. Foi com misto de espanto e alegria que constatei a vitalidade e o dinamismo que Faro evidenciou enquanto eu lá estive, a primeira quinzena de agosto. A Baixa estava sempre cheia de gente de Faro e de fora, conheci estabelecimentos recentes com conceitos modernos e atraentes e que são obra e ideia de gente minha amiga, entre os quais destaco o requintado Mezzanine do João Tiago, o refrescante The Woods do Mauro e o elegante Aperitivo do Miguel Gião que continua a ter aquele toque de Midas que o distingue da concorrência. A nova unidade Chelsea perto da Zara e o disco-bar Castelo são dignas de menção honrosa, casas que oferecem predicados de bom-gosto não só aos farenses como aos visitantes. Um salto qualitativo enorme em comparação com o que Faro habitualmente tinha para dar e que acabou com a pergunta que sempre fazia: „Onde é que eu vou levar a moça?”
Fiquei orgulhoso e comovido, confesso, quando cheguei à Rua de Sto. António numa bela sexta-feira e vi esplanadas completas. Eu já estava habituado a ver a principal artéria comercial de Faro como uma rua-fantasma de lojas encerradas e anúncios de trespasses onde a caca de cão minava de forma perene o belo desenho de calçada portuguesa e o esplendor de casas como a boutique Pigalle ou as sapatarias Charles e Italus (o furor que fez aquele reclamo luminoso em forma de cruz) já só existiam no meu imaginário – uma era da qual vem o original e resistente gato de neons da Ótica Graça – porém subitamente deparo-me com um amplo leque de cafeterias e estabelecimentos comerciais pujantes de ofertas e cheios de fregueses. Até o velhinho café Aliança reabriu as portas com uma nova conceção mas preservando o charme ancestral próprio de um dos três cafés mais antigos de Portugal.
É uma dupla satisfação, esta de ver Faro a recrescer. Por um lado nota-se que o povo está mais animado, readquiriu a alegria que eu sempre lia nos rostos da minha gente mas que andava arredada devido aos últimos tempos austeros. Os restaurantes da ilha do Farol e da Praia de Faro estavam cheios, na Festa da Ria Formosa era difícil encontrar lugar para sentar e comer. Está mais folgado, o algarvio. Está mais tranquilo, recuperou a vontade e a iniciativa, quer fazer coisas, jantar fora e ir a lugares, tem planos e projetos, abandonou o pensamento curto prazo e o “logo se vê”. Por outro lado não posso ficar indiferente a ver rapaziada que eu prezo tendo sucesso numa indústria tão competitiva como a restauração e numa terra tão ingrata para os seus próprios filhos como é Faro. As casas acima mencionadas são uma amostra dos novos ventos que sopram na minha cidade no campo do empreendorismo, novidades de risco porque priorizam a qualidade e o requinte à habitual chungaria que traz lucro fácil. É o caminho mais complicado mas aquele que na minha opinião enobrece tanto os que apostaram no nível elevado dos seus serviços como a cidade que ganha por ter estabelecimentos de tal categoria. O cliente é presenteado com atendimento e produto de classe, fica com vontade de voltar, todos lucram.
Por isso mando daqui um abraço de reconhecimento pela coragem àqueles que possuem uma visão inovadora e a noção de que Faro precisa de locais assim, bem como a ousadia de meterem mãos à obra e edificarem os seus projetos, e uma palavra de agradecimento por contribuirem desta forma para a prosperidade da minha terra. Graças à vossa determinação e audácia sinto-me melhor quando volto à nossa cidade e tenho mais opções para onde levar os meus amigos. Que nunca vos falte a inspiração.