quinta-feira, 26 de junho de 2014

A Rita

Cidade Capital
A Rita esteve em Varsóvia!
- Uau, fantástico... E quem é a Rita? - pergunta o leitor, se calhar intrigado por dar tanta importância a uma portuguesa na Polónia. Como se eu estivesse num salão da Ferrari e ficar todo contente por ter encontrado um Fiat 127.
A Rita é uma das pessoas que me ensinou a ser professor de Língua Portuguesa, se é que já atingi tal estatuto. É uma das pessoas que me ajudou na integração na Comunidade Portuguesa, que me amparou em momentos mais periclitantes e que me acompanhou nos primeiros passos na Cidade Capital. Juntamente com o Mário, a Rita foi parte integrante duma tríade de portugueses responsáveis pelo ensino do idioma lusitano numa das escolas de línguas mais conceituadas da cidade e fez parte crucial dos meus primórdios neste país. Graças a ela conheci pessoas e lugares, aprendi usos e hábitos, pude funcionar com mais facilidade. É uma pessoa pela qual eu guardo um carinho especial e que terá sempre um lugar diferente no meu grupo de amigos varsovianos.

Os meus primeiros tempos na capital polaca foram passados na companhia da minha (ex-)ex-namorada, dias difíceis porque não conhecia ninguém e Varsóvia assemelhava-se a um enorme formigueiro onde as pessoas nem sequer se cumprimentavam e não tinham interesse em conhecer outras pessoas. Conheci o Mário e a Rita quando procurava emprego, o Mário fez-me a entrevista e abriu-me as portas da Escola Bravo e a Rita mostrou-me o funcionamento da empresa e preparou-me para enfrentar turmas de curiosos alunos. Foram duas importantes muletas num período menos estável da minha vida, numa altura em que as saudades de Faro ameaçavam minar os planos de triunfo na Polónia. Eles, sabendo o que sofre um português no começo da sua aventura polaca, pegaram em mim e mostraram-me as coisas boas que existem em Varsóvia, levaram-me a sítios bonitos, proporcionaram-me experiências muito giras e que eu desconhecia por completo (um marcante passeio de bicicleta por Praga Norte no tempo em que ainda havia a feira junto ao Estádio, por exemplo) e, o mais importante, apresentaram-me portugueses. Foi a partir desse momento que a minha vida mudou, quando conheci portugueses em Varsóvia. Obviamente que nem todos eles se revelaram interessantes, como em todos os povos há sempre pessoas com quem temos mais afinidades que outras, pessoas que depois se tornam mais relevantes que outras, mas a presença de compatriotas numa paragem tão afastada do berço é importantíssima no plano da adaptação dum recém-chegado como era o meu caso. Graças à Rita conheci o meu melhor amigo (um mano!) John, a minha maninha algarvia Sónia, um outro amigalhaço que é o Ricardo e foram estas pessoas que formaram a minha base de apoio. A Sónia entretanto foi para os Estados Unidos mas o Ricardo e principalmente o John continuam cá e compõem aquele forte onde sei que me posso abrigar em caso de tempestades.

A Rita veio a Varsóvia!
Quantos lamentos eu ouvi dela, que os polacos eram isto e aquilo, cheios de defeitos. Eu rebolava-me a rir porque entretanto já me tinha lançado na noite a todo o pano com elevada rotatividade de parceiras e não sofria de todo do mal dela, pelo contrário, às vezes até tinha problemas de agenda porque os encontros sobrepunham-se. E ela protestava, barafustava, guerreava comigo porque eu era um lambaraz e só tinha sucesso porque elas não percebiam o que eu lhes dizia. Uma vez encontrei-a com uma data de portugueses perdidos de bêbados no antigo Przekąski Zakąski, eu fui com uma amiga para a apresentar aos meus amigos patrícios e revelou-se um erro. A Rita apanhou uma piela de tal maneira que não se aguentava nas canetas, agarrava-se a mim para não cair e a minha amiga começou a desconfiar, pensava que eu queria uma no papo e duas no saco e ameaçou abandonar a discoteca para onde todos fomos em seguida. A duras penas consegui persuadi-la a ficar, que a Rita era apenas uma colega de trabalho e que o meu interesse era nela. Segundos depois de a ter convencido eis que a Rita protagoniza um episódio hollywoodesco, desequilibra-se e prega uma punhada na garrafa de cerveja que a minha companhia segurava, salpicando-a de cima a baixo, ao que se seguiu um épico espalho na mesa vizinha. Dividido entre a vontade de rebentar a rir e hipotecar o engate, abandonar a bêbeda para salvaguardar a minha prevista cópula ou fazer a coisa certa e ajudar a amiga lisboeta acabei por açaimar as hormonas e chamar um táxi para a Rita, coisa de que ela nem gozou porque fugiu incognitamente da casa de banho enquanto o chofer de praça esperava por ela sendo que o seu regresso a casa se ainda mantém envolto num espesso manto de mistério, tanto para mim como para ela.

A Rita voltou a Varsóvia!
Grande companheira, do tempo em que ganhávamos pouco mas ríamos muito. Bastante do meu êxito e da minha paixão por esta terra se deve a ela. Volta sempre, miguinha!