sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Na Polónia sê Polaco - 13

Doner Kebab Há dias deu-me uma fome maluca, uma vontade incontrolável de comer um franguinho assado no carvão como se pode encontrar em tantas churrasqueiras portuguesas, o molho gordo de alho e limão pincelado na pele do frango que fica no fundo da embalagem de alumínio e que serve para arrumar com um pão de meio-quilo. Dei comigo na fila do KFC a lamentar a minha sorte, a de não ter um lugar desses em Varsóvia onde pudesse encomendar o frango, as batatas fritas e o arroz. No entanto há uma especialidade que se encontra em praticamente todas as ruas da Cidade Capital, o kebab.

Não é culinária polaca nem nada que se pareça, o kebab é uma espetada de carne que se assa num forno ou na brasa. No entanto a especialidade mais consumida na Polónia é o döner kebab, carne de frango ou de borrego (ou cordeiro) empilhada num espeto que gira à frente de uma grelha a gás. O kebab é extremamente popular na Polónia e é o registo de fast-food mais procurado pelos polacos até mais do que as casas de hambúrgueres e de saladas, sendo que é particularmente visitado depois de uma noite de copos ou de danças fortes. Eu próprio já me pus na fila para o kebab às tantas da manhã, o sol a raiar e eu cheio de vapores, para consolar o estômago antes de voltar para casa. É o ideal, carne com fartura, saborosa e vem com umas verduras para ajudar a assimilar. Desaconselhável como refeição sistemática mas perfeito em dias de festa ou naquelas corridas a que o quotidiano às vezes nos obriga.

Conheço dois irmãos que se dedicam à preparação e comércio de carnes para restaurantes de kebab. Turcos, claro, fanáticos do Beşiktaş, oConcorrência Aykut e o Mihtat disseram-me que fornecem mais de cem vendedores de kebab só em Varsóvia, um trabalho que os obriga a pegarem muito cedo (5:00h) para que os seus clientes tenham as carnes mais tenras e melhor preparadas da cidade. O negócio é levado muito a sério até porque há competições entre os restaurantes com júris entendidos na matéria, prémios são outorgados aos vencedores que os exibem orgulhosos nas paredes dos seus espaços comerciais. Aqui perto tenho um estabelecimento que ganhou o prémio em 2009, realmente fazem um kebab que é uma especialidade, e que visito com alguma regularidade à falta do tal franguinho bem regado.

Sempre que pego no cartucho de carne ponho-me a pensar no que dirá o meu intestino ao digerir estas mistelas, ele que sempre foi habituado a sabores mais meiguinhos. Faz parte, não há um franguinho da Guia mas há um kebab de Varsóvia. Ou isso… ou fome.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Vida nova

De Ursynów a Bemowo Por força do mencionado aqui e na sequência do que foi contado aqui, nova etapa da minha vida na Polónia se concretiza. Uma mudança importante como todas as que vivi neste país até agora, talvez mais importante porque vai permitir o meu registro a termo indeterminado como habitante na Polónia. É que até agora eu não tinha direitos cívicos por não estar registrado, os meus senhorios - tanto no tempo da Iza como depois em Natolin - nunca quiseram aferir a minha residência por não quererem pagar impostos e por terem receio dorua Górczewska meldunek, o direito de preferência sobre a superfície de que eu beneficiaria e que lhes dificultaria a vida caso eles se quisessem ver livres de mim. Agora tudo será diferente para melhor, vou mudar-me para a casa da Ewa, porque o crédito está em nome dela, onde finalmente posso obter a confirmação de que resido nesta terra.

Vendo a coisa à distância concluo que o meu caso tem aspetos divertidos. Comecei por ter um registro provisório em casa dos pais daObras no interior da casa Iza, minha ex-namorada, que servia para eu pedir o número de identificação fiscal por intermédio de uma entidade empregadora.  Comecei a pagar impostos sobre os meus rendimentos como qualquer contribuinte honesto mas tinha o ónus de trabalhar em Varsóvia e estar registado em Tychy que fica 320 km a sul. Toda a correspondência fiscal, declarações de rendimentos e por aí fora eram para lá direcionados, facto que me causava grandes transtornos agravados pela nossa separação que a obrigava e à família a terem de conviver com o correio do namorado defunto já que eu tinha ficado em Varsóvia e ela tinha entretanto voltado para a Silésia. Expirado esse registo e perante as negas do meu senhorio restou-me trabalhar num regime curioso, fiscalmente reconhecido como residente em Varsóvia na rua tal e tal mas sem direitos cívicos. Ou seja, capaz para pagar impostos e segurança social mas inapto para possuir bens devido à falta de registo de residência.

Bemowo É aqui em Bemowo, um West End Warsaw, que está a primeira casa mais próxima daquilo que se pode chamar de minha. A vizinhança é da melhor, um Tesco 24/7 a cem passos de casa, terminais de autocarro e elétrico ao atravessar a rua, bombas de gasolina num raio de 200m, farmácias, bancos, mercearias e clínicas com fartura, parques e piscinas a 5 minutos a pé, um centro comercial enorme a 700m, as comodidades duma grande cidade à mão de semear. Foram quatro anos em Natolin, no sul de Varsóvia, mas em breve o subtítulo do blogue terá de ser atualizado.