domingo, 30 de agosto de 2009

Anoitecer

O verão algarvio parece ignorar o calendário, já vamos em fins de agosto e o temómetro não baixa dos 30º. Coisa admirável pois por estas alturas já costumam soprar ventos desagradáveis e cair cacimbas que afastam as pessoas da noite. Este ano o verão não quer ligar ao BI, já vai com 2 meses e meio mas continua radiante e presenteando as pessoas com extraordinários dias de sol e com águas amenas.

praia de faroEste Agosto passei-o quase integralmente com visitas polacas, uma delas mais especial que as outras =) e a todas tive o sumo orgulho de lhes dar a mostrar a minha região e partes próximas que não são algarvias mas a que muito quero. A Gosia visitou a Zambujeira do Mar e ainda viu os trabalhos de desmantelamento da estrutura do Festival do Sudoeste, a Ania e a Ewa conheceram algumas paragens interessantes da Andaluzia e foram seduzidas pelo glamour de Vilamoura, outra Gosia mergulhou na Fuzeta e a fundo na vida da Praia de Faro e da capital algarvia. Todas se encantaram com os rincões mouriscos, com a gastronomia (ganda cataplana de marisco e sangria que eu e o Giga fizemos, punhão!) recheada de sabores do mar – perceves, amêijoas, camarão, conquilhas – com o clima perfeito, o pôr do sol na praia, as gentes simpáticas, os sorrisos, a afetuosidade e os beijinhos.

Zarparam para Varsóvia deixando boas memórias em Faro, os olhos claros, a câmera sempre alerta procurando momentos como este que a Ania registrou em frente ao meu spot, a fala estranha. Deixando um também estranho vazio como estranho é entrar em casa ao anoitecer e ainda sentir no quarto o perfume de quem partiu há já 2 dias. Hmmm, querem ver que…?

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

E lá vão cantando e rindo…

5 jogos oficiais depois o Sporting conquistou zero vitórias, um registo escuro que deixa a nação sportinguista preocupada e pessimista. Curiosamente um pessimismo que não é de todo imprevisto pois há muito que se tem vindo a notar a desconfiança dos sportinguistas na sua equipa de futebol. Têm razão para andarem desconfiados se repararmos na miséria que foram os jogos de preparação em termos de resultados e de exibições. Na mira, Paulo Bento.

Paulo Bento Friso que aplaudi a escolha do atual técnico do Sporting para substituir José Peseiro pois trata-se dum treinador jovem, ambicioso, que conhece o futebol por ter experiência de cabine e de saber como pensam os jogadores, uma vantagem em relação aos treinadores de diploma. A sua frase “de que vale jogar como nunca e perder como sempre” fez-me imediatamente que tínhamos homem ao leme da equipa e que iríamos jogar com a raça que Paulo Bento sempre patenteou enquanto jogador.

Algumas Taças e Supertaças (e zero campeonatos) depois o Sporting já não é novidade para ninguém, o modelo do losango é um livro aberto, rígido, previsível e que não surpreende. As bolas paradas ofensivas são ineficientes, os pontapés de canto morrem na defesa contrária por défice de centímetros dos verde-e-brancos ou diluem-se na rotina irritante do canto curto que nunca teve finalização positiva. Os envolvimentos na direita não têm consequência porque o lateral que devia fazer o cruzamento é ruim, seja Pedro Silva ou Abel. A propósito de laterais direitos, a substituição de um ou outro por Pereirinha arrisca-se a fazer parte do repertório dos Gato Fedorento de tão anedótica que se tornou – se é para serem substituídos porque não apostar em Pereirinha de início e fixá-lo desde já à posição?!. Qualquer alteração é sempre ela-por-ela, não há um plano de contigência para quando as coisas correm mal, é sempre aquele rame-rame do princípio ao fim, jogadores sem agressividade, sem explosão, sem brilho. Um fio de jogo monótono como uma novela portuguesa sempre com os mesmos protagonistas e de conclusão antevista. Polga enterra em todos os jogos, Carriço desaprende com o brasileiro e Caneira e Tonel fervem no banco, Abel e Pedro Silva juntos não fazem um, Moutinho está preso á tática comprometendo a sua evolução enquanto futebolista, Veloso percebeu que a melhor maneira de abandonar o barco é jogando bem e justificar uma transferência, Vuk é uma sombra, Rochemback quer sair, nenhum jogador parece motivado para jogar no Sporting. Quem sai em defesa da equipa? Quem dá um grito?

Pedro Barbosa é prefeitamente invisível surgindo apenas enquanto representante do clube nos sorteios das provas em que o Sporting participa; Carlos Pereira apresentou, no final do jogo contra o Braga, um discurso estúpido justificando a derrota com o eventual erro de Olegário Benquerença ao não assinalar uma grande penalidade no lance comJEB e Bento Moisés, um lance que ninguém em consciência pode ajuizar como ilegal por ter sido um remate à queima-roupa, em vez de fazer uma leitura real da bosta de jogo que o Sporting fez, desgarrado, desconexado, sem ligação entre os sectores, sem agressividade nem esclarecimento, sem noção do que fazer; Bettencourt vive na bolha de euforia que foi criada por ter sido eleito presidente do seu clube e não mede as palavras, mandando bojardas e loas absolutamente escusadas aos rivais em vez de fortificar as hostes; Paulo Bento é incapaz de mobilizar e animar os adeptos por ter a imagem desgastada ao ter de dar sempre o corpo às balas e por teimosamente não ter alternativa tática ao losango de todas as irritações, além disso compra guerras no plantel com o seu bullying do qual alguns ativos da SAD saíram desvalorizados. O Sporting definha, impera o laxismo desde o topo da hierarquia até ao tratador da relva, perder é normal, empatar é fixe, ganhar é a exceção.

Em todas as grandes equipas há um capitão que encarna a mística do clube: Ferdinand, Bruno Alves, Puyol, Terry, Van Bommel, jogadores que batem na mãe para defenderem o emblema se for preciso. No sábado, já o Braga ganhava por 1-2, Mateus caíu sobre a linha lateral e rebolou para dentro do campo para ganhar tempo. Oceano, Petit ou Jorge Costa tinham chutado o minhoto para fora dos limites do concelho para que o jogo se reatasse. Os jogadores sportinguistas, gatinhos, limitaram-se a encolher os ombros e a gritar apontando para o arsenalista. Não há caráter nem personalidade, começa a não haver paciência para tanta frouxidão

Roca O que é indesmentível é que é extremamente aborrecido ver o Sporting jogar, os sportinguistas seguem os jogos do seu clube pela devoção e não pelo prazer de ver a sua equipa jogar futebol. Ver o Sporting hoje em dia dá o mesmo gozo que ver uma reportagem sobre os refugiados do Darfur ou um atentado do PKK. É um crime de lesa-futebol assistir à sucessiva martirização da melhor massa associativa do mundo por não haver ninguém que se insurja e que delibere duma vez por todas que o Sporting tem de ganhar sempre, sempre!

Mas quando temos um presidente que enaltece os outros gajos em vez de tentar decalcar a mentalidade ganhadora e organização vencedora do FC Porto, penso que está tudo dito. Este vai ser mais um ano de desilusões e qualquer dia ninguém quer ser do Sporting, Eu é que já estou demasiado velho para mudar senão mandava aquela gajada toda gozar com a put@ da mãe deles porque o que se está a passar no meu clube só tem uma definição: vergonha.

Pois que a tenham!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Ayamonte

2007_03_29_es_an_Ayamonte Tenho visitas polacas a meu convite que vieram passar 10 dias a Faro, temos dado algumas voltas para que as meninas conheçam melhor a região que divulgo com tanto orgulho na Polónia. Ontem calhou ter uma abertura para dar um saltinho a Ayamonte e embarquei a Ewa e a Ania para poder dar a conhecer um pouco da realidade da vida à beira-Guadiana. Atravessar aquela ponte sempre me faz um pouco de confusão, ir a Espanha é como atravessar o espelho e entrar num ambiente que é muito parecido ao nosso mas com muitas pequenas diferenças que recordam que não estamos em casa. Ir a Espanha é também recordar a saga do bacalhau:

Há 30 anos atrás ainda o escudo dava bailes à peseta, os portugueses tinham maior poder de compra do que os espanhóis e atravessavam a fronteira de Vila Real de Sto. António para irem às compras à vila de Ayamonte onde havia comida, brinquedos e produtos de limpeza mais baratos do que em Portugal. A minha família demandava Espanha uma vez por mês para se fornecer de bacalhau, alimento essencial na gastronomia portuguesa e que naqueles tempos escasseava no nosso território. Acresce que a minha avó tinha uma pequena empresa de produtos alimentares, fazia rissóis, pastéis de bacalhau, empadas e outros salgadinhos com que abastecia Faro inteira – escolas, cafés, restaurantes e supermercados. A Renault 4L do avô Luís enchia-se de filhas, cunhadas e netos e atacava os 53km da rudimentar EN 125 em ambiente de grande folia, íamos à Espanha!

Eu curtia ir à Espanha porque isso era sempre sinónimo de diversão. As viagens eram sempre grandes pagodes, a minha avó avisava o meu avô para não atropelar um cão que estava deitado a 10 metros da estrada, o velhote rosnava-lhe para que ela o deixásse conduzir descansado, a minha tia tentava cortar um pão caseiro no banco de trás para fazer o farnel e o puto lourinho que eu era lavava-se a rir com as tropelias da família e antevia o brinquedo que traria para Faro – uma ocasião fiz pressão para que a minha tia comprásse um estojo de química. Apesar da veemente oposição da minha mãe acabei por levar o estojo para casa e logo na primeira experiência puxei fogo à alcatifa do quarto.

Os quintais de bacalhau que eram trazidos todos os meses só tinham entrada em Portugal devido à incrível capacidade de persuasão que os meus familiares sempre tiveram, as minhas tia e avó conseguiram800px-Puente_sobre_el_Guadiana cativar os agentes da Alfândega e da Guarda Fiscal à pala de tanta conversa exageradamente simpática para passarem apenas metade dos sacos no balcão da repartição e conseguindo que o bacalhau passásse à ravessa dentro do carro onde o meu avô esperava impaciente, sempre protestando com o “dar-à-língua” desnecessário que as mulheres da minha família protagonizavam com os agentes alfandegários. O bate-boca não era desnecessário de forma alguma pois crianças menores de idade só podiam transpor a fronteira mediante uma autorização escrita dos pais e eu ia sempre com uma mantinha por cima para disfarçar, apesar de toda a gente em Vila Real saber que eu ia lá. Até com 12 anos eu conseguia aceder ao ferry-boat com bilhete de criança (8 anos), aqueles pequenos favores que se praticavam sem se ter a noção de que se estava a violar a lei nem com consciência do sinónimo “corrupção”.

ferrysmall Voltar a Ayamonte e beber uma caña e comer um prato de choco frito é recordar esses tempos e compará-los com os dias de hoje. Já não há tantas lojas de brinquedos, a praça está modernizada, o estádio foi substituído por apartamentos de primeira classe, os ferrys foram trocados pela ponte e são apenas atração turística. Passeei pelas ruas onde haviam as tais lojas, revi os supermercados onde a minha mãe comprava sabonetes Heno de Pravia e espreitava as rebajas e a mercearia do sr. Virgílio, português radicado em Ayamonte, de onde proviam as pajelas de chocolates e bacalhau que levávamos para Faro, lembrei as filas de carros no porto porque toda a gente queria seguir no último barco da noite, as sandes de paio e batidos Cola Cao, os bilhetes rasgados pelo Payño da bóina preta a flutuar no Guadiana.

Ah, os tempos em que éramos felizes e não sabíamos…

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Faro iz in tha Houz!

“Not everyone understands House Music. It’s a spiritual thing, a body thing, a soul thing” – Eddie Amador

1127724357_54eeb28b21 O verão é pródigo em festas por todo o Algarve, não só na praia mas também no barrocal e serra algarvia. Eu não sou muito moço de meter-me pela estrada acima e enfiar-me nos cerros, sou muito mais adepto de areal, mar e sol no lombo e por isso tenho-me ficado pelas borgas estivais á beira-mar. Este domingo foi a vez de Bob Sinclar visitar a capital algarvia e brindar o povo farense com uma sessão extraordinária de house.

Bob Sinclar é um dos produtores house mais em voga no mundo e não há ninguém que já não tenha ouvido um dos seus êxitos na telefonia ou numa discoteca, tal gabarito criou expectativas no muito público que se juntou no Largo da Sé para ouvir as dominadoras batidas que ricocheteavam das paredes do Seminário. Muito público que se juntou para ouvir house mas principalmente para se divertir e é esse ponto que eu quero frisar.

Penso que não há nenhum registo musical que transmita tanta harmonia como a house music. Em qualquer festival ouSN7T0GCASVNBKYCAW6G9MNCAP2MC0QCASFW5BJCAQGASJPCA97BMZ0CAE5REFWCABZZXGQCA2BIB3WCAJJ8XH8CAC3LZQFCAFJ02UMCAOOWC27CAAQ12TCCAGK42R9CAD9D2CKCAS0OYZJCA0JF23W manifestação house vê-se gente que está presente unica e exclusivamente com o intuito de sentir as vibrações do som, curti-las e desfrutar. Não há mensagens de ódio ou rancor, incitamentos á guerra ou a insurreição, palavras de ordem ou recados implícitos. House é paz e amor, um transporte para um mundo lindo, com ordem e boa disposição, uma ode à vida e à concórdia. Não se vê agressividade ou violência, não há comportamentos desviados, ninguém se exibe, se provoca ou zomba.

Estiveram milhares de pessoas no Largo da Sé a ouvir house impregnadas de bem-estar, indiferentes ao aspeto de cada qual, às vestimentas, aparências, maquilhagens, adereços ou cor. Festejou-se a alegria de se estar vivo e de sentir. Faro dançou, pulou, beijou, bebeu, amou, acordou cansado mas muito feliz consigo e com o mundo. É o efeito house no qual eu sou assumidamente viciado e que me vai fazer saltar muito durante este mês. Spin that wheel!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

À beira-mar sentado

Um dos prazeres que tenho quando chega o verão é sentar-me debaixo do alpendre depois do almoço, voltar-me para a Ria e folhear o Público. Não me detenho a ler as notícias, o mundo está demasiado mau para eu queimar tempo aborrecendo-me mas ao domingo, então, é um gozo viajar através da Fugas e conhecer destinos longínquos que me fazem sonhar com viagens inalcançáveis, como para a Islândia onde tenho uma sandes de tubarão prometida por uma amiga "virtual" já há mais de 4 anos.

A Fugas levou-me de novo para a Polónia, os repórteres viajaram para o meu país adotivo e entretiveram-se a descobrir os pequenos encantos que a Polónia tem: Cracóvia, Zakopane, a mina de sal em Wieliczka (Património da Humanidade da Unesco) e recolheram imagens que fazem parte do meu quotidiano varsoviano como o contraste curioso entre comunismo e capitalismo existente entre o Palácio da Cultura e o Hard Rock Café que convivem na mesma rua da capital polaca. É também interessante ler a curta coluna que o Miguel Esteves Cardoso tem na penúltima página, sempre um olhar sobre pequenos nadas do dia-a-dia que são escritos com a simplicidade das coisas perfeitas, um hábito diário que readquiri na Praia de Faro.

Perguntam-me muitas vezes de que senti mais saudades durante a minha estada na Polónia, se do sol, amigos, comida, família. Senti saudades de Portugal, do idioma escrito e falado em toda a parte, da forma franca e explícita de se exprimirem as emoções, de abraçar as pessoas ou mandá-las bordamerda sem pruridos, de largar um barrano na mesa ou gargalhar escandalosamente, dos cheiros e cores, das festas e celebrações (ontem, Bob Sinclair ao vivo na Sé até às 5:30!).

Portugal é isto, felizmente genuíno e sem máscaras, capaz de chorar sangue e de rir até desmaiar no minuto seguinte. E é tão bom poder deitar para fora o que nos vai na alma.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

@Faro - 3

Bastou um mês de comidinha caseira para pôr 5kg a mais no organismo. Apesar de eu ser apreciador da maior parte da cozinha polaca tenho tido muito prazer em redescobrir algumas delícias algarvias de verão que estavam arrumadas na minha memória desde há dois anos, coisas pequenas como conquilhas, perceves, camarões, robalo assado, amêijoas e até um folar serôdio que vai sendo visitado ao pequeno-almoço. Menção honrosa para a tosta de galinha com alho que é especialidade do Bistro da Praia de Faro já há anos e que devoro com apetite sempre acompanhado por um Ice Tea de chá verde gelado.

5kg a mais, numa idade destas, pode dar cabo da silhueta duma pessoa, ainda por cima quando o corpinho sempre foi habituado a exercício físico constante. Daí que roguei à minha rica tia que modificasse um pouco a ementa e poupasse nos molhos e na carne já que iniciei um programa de corridinhas na praia, alogamentos, flexões e abdominais para combater os perigos das moles de imperiais que me esperam todas as noites na Praia de Faro. O resultado foi imediato, o almoço seguinte consistiu num prato - apenas - de dobrada com feijão branco, o que originou novo pedido para que se fizessem refeições mais frugais, como uma sopinha para o jantar. A tia Isabel concordou e prometeu.me que fazia apenas uma sopa para o jantar. "Atenção, tia! É só sopa, ok?" Assim ficámos.

Regresso à tardinha, atiro-me à água do mar para algumas braçadas anti-stress e ao chegar a casa pergunto o que há de jantar. "Tu tens a sopinha que me pediste". Sento-me à mesa e chega um tacho fumegante que depois de aberto serve-me um disco atafulhado de sopa de xarroco com algumas sete fatias de pão ensopadas no caldo. É difícil contrariar a máxima da minha família que reza "comer bem é comer muito", por isso encolhi os ombros e ataquei. O mais que consegui fazer foi adiar para alturas do pequeno-almoço a bola-de-berlim que foi colocada à minha frente enquanto sorvia a sopa.
Amanhã às 7:30 tá a transpirar! Um-dois, um-dois, um-dois...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Agosto no Algarve - ou - fujam daqui que já não se pode andar na rua!

Ponto prévio: O "meu" Algarve não é o da Oura ou Praia da Rocha, de Vilamoura ou Areias de S. João, do Ancão ou da Galé. O meu Algarve, sem aspas, não tem nada a ver com praias lotadas de tias ou tios acorrentados a ouro e de BlackBerries no areal nem com os respetivos sobrinhos que de tão formatados já parecem ter caras de adulto mesmo que apenas contabilizem 7 ou 8 anos no BI. O meu Algarve não tem festas glamourosas onde os convidados têm os dentes mais branqueados que Camarate e onde se acotovelam para ganhar alguns centímetros quadrados de notoriedade pífia nos pasquins cor-de-rosa ou para pontificarem nas colunas dos Carlos Castros da vida. O meu Algarve não tem jipes com a maquineta da Via Verde estacionados à lei de quem tem fome em cima dos passeios. O meu Algarve existe 12 meses por ano e não se reduz a um par de semanas em Agosto em busca frenética de flashes, festas brancas ou tratar os amigos usando a terceira pessoa e acrescentando um "ç" depois de cada "t" como parece ser chique agora (Já repararam como se diz "olá, tçá bom? Entção e a família, tçudo bem?"?)

O meu Algarve é genuíno e é feito de lodo e sal, de amêijoas e chibas, de tarte de alfarroba e D. Rodrigo. O meu Algarve é minis no Zé Maria e galo caseiro à do Sr. Cavaco em Sta. Catarina da Fonte do Bispo. O meu Algarve é Manta Rota há 10 anos atrás e Ilha de Tavira by night. O meu Algarve é catar conquilhas na Ilha do Farol e ir ao lingueirão com aderiças no parchal em frente ao Aeroporto. O meu Algarve é carraspanas de medronho em Salir ou Monchique e cabazadas de perceves em Odeceixe. O meu Algarve é Fuzeta e Faro, Olhão e Tavira, V.R.S. António e Aljezur.

Já corri essas capelinhas todas, essas que aparecem sempre nas revistas de Agosto. Conheci a Manta Rota antes do Manta Beach, bati aquela praia toda da Lota a Cacela a caçar medusas com o meu irmão Ricardo, a Natacha e a Maria João Belchior*, putos nesse tempo, ainda aquilo era um sítio civilizado onde se podia fazer praia e efetivamente descansar. Fugi atrás de tantas ou mais "bifas" na Praia da Rocha do que o outro parvo e nem por isso me bazofiei em público (o tal cão que não ladra) ainda aquilo tinha Sachs em vez de Sashas. Palmilhei toda Albufeira desde o extinto IRS até S. Gabriel, fazia os 10.000 metros entre o Vegas e o Atrium na rua dos bares, faturei no Alabastro, Kadoc, Locomia, irlandesas, holandesas, alemãs mais IVA ainda não havia a Via do Infante. Persegui o calendário de Festas da Espuma, do Esferovite, do que houvésse a jorrar do céu e que pusésse as miúdas malucas.

Detesto o Algarve em Agosto por ser a altura do ano em que a minha região é menos genuína. Hordas mediáticas demandam o Sul para se bronzearem (lá têm uma oportunidade por ano de excitarem a melanina sem ser naqueles grelhadores dos Hea(l)th Centers a que chamam solários) e para gritarem ao telemóvel "Está lá? Francisco? Olhe, pá! Você nem imagina onde eu estou!" enquanto esperam por um peixe grelhado. O Algarve torna-se uma caricatura, uma Cuba no tempo de Fulgêncio Batista, um bordel de vaidades, uma passerelle de Lagos a Almancil (felizmente que em Faro ninguém mete o bedelho) onde se diz que se está no "Ógarve" sem que se entenda minimamente que o Algarve não é nada disso.

Eu próprio, como algarvio, questiono-me sobre esta coisa do Allgarve. Um Algarve for all, mesmo os que vivem no Poortugal ou um fedorento alcouce de futilidades para onde o resto do país voyeur olha com indigência? O tal Algarve que é a 2ª região mais produtiva de toda a Nação (atrás de Lisboa e Vale do Tejo) e que só recebe migalhas do Orçamento como investimento público? Ou o Algarve que andou a gemer anos e anos para que a A2 chegásse finalmente cá? Ou mesmo aquele Algarve que demora algumas 3 horas para ir de Lagos a Vila Real de comboio? Se calhar é o Algarve que os algarvios merecem por terem votado "Não" no referendo de 98...

Agora que estamos em pré-campanha para as legislativas, sugiro um imposto turístico tal como existe na República Dominicana: O turista bate o passaporte ali nas portagens de Paderne e largam-se 100 euros por pessoa, com óbvia isenção de taxa aos residentes. Ficava o Algarve mais filtrado de impurezas provenientes de a norte de Setúbal e nem por isso menos prejudicado financeiramente. Para gente abjeta preferimos os "camónes", esses ao menos deixam uma pipa de massa na região.

Os próximos posts descreverão o meu conceito de Algarve. Competerá ao leitor, se quiser, julgar qual o mais interessante.




* João, que dirá agora o António sobre o que aquilo se tornou?

domingo, 2 de agosto de 2009

Sir Bobby Robson 1933-2009

O mundo presta uma enorme vénia a um cavalheiro do futebol. Sir Bobby Robson.

Tive a oportunidade de privar com ele alguns minutos na praia do Ancão onde o encontrei de férias, enchi-me de coragem e pedi-lhe um autógrafo e uma foto no telemóvel (infelizmente perdida). Acerquei-me dele e disse "Mr Robson, I'm a big fan of yours" ao que ele me respondeu "Oh, really? I'm a big fan of yours too!"

O gelo ficou quebrado, trocámos algumas palavras sobre futebol e ao pedir-lhe a foto identifico-me como adepto do Sporting. Robson rematou rápido com boa pronúncia lusitana: "Sporting? Sousa Cintra? Ele é maluco! Maluco!" Referi a surpresa com que a nação sportinguista recebeu a notícia do seu despedimento em Alvalade, que ninguém a tinha aprovado, ele retorquiu que "He's rich but completely crazy man". Tem razão, Sir Robson. Ainda por cima foi para o FC Porto e ganhou-nos um título em pleno Alvalade sendo carregado em ombros pelos jogadores portistas. "Pity, young man. But don't blame in on me".

Claro que não, Sir Robson. Nós, Sporting, somos especialistas em dar tiros no pé. Mas temos boa memória e o Senhor ficará para sempre na de todos os sportinguistas vestido de fato de treino verde e branco da Umbro a prever que "Figo poderá ser o melhor do mundo!".

Bem haja, Sir. And thank you for the wonderful football Sporting played back then.