domingo, 31 de maio de 2009

O que é que a gente tá aqui fazendo? - 4

Começaram logo por me queimar a manhã de domingo. Só o reconhecimento deste período da semana (manhã de domingo) indica que algo errado se passou pois o domingo começa habitualmente ao meio-dia ou à uma da tarde, assim que a existência de uma manhã de domingo diz logo que a coisa vai mal.

Escrevia eu, começaram logo por me marcar um workshop no Museu Etnográfico às 11 da madrugada de domingo. Elegeram-me à revelia para representar a Língua Portuguesa no evento "100 Culturas, 1 Cidade", o que me honrou apesar da inconveniência do horário. Ante uma ávida turma de curiosos olhos azuis, cumpri a missão de desmistificar o exotismo do idioma de Pessoa e desmontei alguns estereótipos que os portugueses têm nesta terra como o proverbial atraso e incapacidade em cumprir horários, a expansividade de gestos, a generosidade muitas vezes caótica e a insaciável vontade de ajudar o próximo em dificuldades. Juntei-lhe uns pozinhos de gramática (a diferença entre SER e ESTAR), uma meia-duzia de saudações e vocábulos de despedida, frisei a inutilidade da Espanha e dei missão como cumprida.

Lá fora caía uma tempestade típica das Caraíbas, a trovoada e um calor pegajoso impediam-me de dar uma corridinha até ao metro e resolvi ficar pelo Centro, procurar um spot para almoçar e esperar que a chuva passásse. Acabei por ir com o Mário e a Dorota a um café na Rua do Ursinho Puff procurar alguma coisa para enganar a traça e verifiquei que o café, de sólidos, só tinha pierogi de espinafres. Foda-se, melhor que fome! Venha uma dose disso e um doppio espresso porque já são duas da tarde e ainda não tomei pequeno-almoço.

Chegam os pierogis, a tarte de maçã do Mário e o chá de erva-mate da Dorota. Eles puxam um tabuleiro de damas e põem-se a jogar enquanto eu vou tirando as rodelas de pepino e os feixes de aipo de cima dos meus rissóis. Na nossa frente, um polaco gago de cabelo comprido tenta impressionar uma loura alta mas de tanto tropeçar e hesitar nas sílabas começa a irritar-me, o Mário ri-se dele e bate ruidosamente com as peças no tabuleiro. Os pierogis sabem a lã e a chuva não há meio de parar, tenho sono e sinto-me impertinente.

Já o barulho das peças misturado com a gaguez do polaco me atazanavam os nervos de tal forma que só me apetecia virar aquele parvo de patas para o ar e perguntar-lhe "achas que vais comer a gaja, pá? Tu nem sequer consegues dizer o teu nome sem fazer a paradinha, achas que vais comer a gaja?!?". O jogo das damas acabou, eu mastigo dengosamente o antepenúltimo pierogi, a Dorota chupa um bocado de chá e começa:

- Comprei uma época inteira do Dr. House em DVD. Há um episódio em que um puto dá entrada no hospital com hemorragias monstras, quanto mais antibiótico lhe dão mais o puto sangra. Fazem mega análises até descobrirem que o miúdo tem um ninho de mariposas instalado no ouvido e que os insetos estão a comê-lo por dentro, e tal, e rá, e etc.

O Mário engole o fumo do seu cigarro e olha para mim desejando ironicamente que eu continue a desfrutar da refeição. Metralho a moça com o olhar para que ela perceba que a puta da conversa que ela está a ter não tem ponta por onde se lhe pegue mas as minhas pupilas descaem para o peito 40 que ela sacode como antídoto para a minha zanga. O polaco volta a gaguejar, faz mais paradinhas que o Zico no México 86. Cai água na rua que parece o Dilúvio, nunca mais vou chegar a casa. Os pierogis estão frios e desinteressantes, o café também. Encho os pulmões de aborrecimento, penteio as sobrancelhas com os dedos e limpo as unhas do mindinho enquanto lhes pergunto em voz baixa...

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Melhor Emprego do Mundo

... não é na Austrália. É aqui, em Varsóvia!

furniko

(foto Mário Machado)

Entregas (principalmente) ao domicílio.

sábado, 23 de maio de 2009

Polónia Pimba

Os primeiros calores do ano transformam a mentalidade dos polacos, ficam muito mais bem-dispostos e procuram as distrações que lhes são disponibilizadas um pouco por toda a parte, seja a Noite dos Museus quando poder visitar gratuitamente as ricas exposições que os museus varsovianos têm patentes beneficiando de transportes igualmente grátis, seja a Juwenalia que é uma espécie de Semana Académica com concertos musicais em diversos pontos de Varsóvia, seja até mesmo gozando os bocados de estio que vão caíndo nos jardins ou nas margens do Wisła. As esplanadas já estão montadas e recebem clientes sedentos de sol, cerveja ou café. Apetece estar na rua, passear, desfrutar do calor e celebrar o pleno da primavera. Apetece tudo menos ir à escola, estudar ou aprender línguas.

Este período do ano é fértil em baldas escolares porque os alunos não têm cabeça para o estudo (ou até SÓ têm cabeça para o estudo se estiverem em época de exames) e preferem extravasar as hormonas em vez de aturar gramática portuguesa. Eu já sei mais ou menos do que a casa gasta e por esta altura vou pensando em soluções imaginativas para motivar os alunos a comparecer nas aulas, a última das quais foi fazer uma aula pimba - Portugal Pimba, estudo e comentário.

As aulas constituiram basicamente em visualização de clipes de grandes nomes da piroseira musical portuguesa, análise e tradução das letras e compreensão do fenómeno pimba em Portugal. Dividimos a música pimba em 4 géneros: Pimba Foleiro, Pimba Romântico, Clássico e Ordinário. Exibimos monstros pimba como a Ágata, ícone da cornaria e das sopeiras ensarilhadas; Emanuel, precursor deste descalabro musical mas que goza do meu respeito por ter afirmado publicamente que não gosta de pimba embora produza temas do género e que só o faz porque dá dinheiro; Quim Barreiros, mestre dos eufemismos e metáforas carregadas de segundos sentidos cuja análise é subjetiva a interpretações pessoais; Luís Filipe Reis, apenas indescritível.

Emanuel teve honras de abertura das hostilidades pelo estatuto que ostenta. O "Rei do Pimba" abriu sorrisos nos polacos supreendidos pela alegria dos acordes e divertidos pelas escolha de indumentária do cantor. Ficaram entretidos com a letra, criámos o verbo "Pimbowac" para definir o refrão e os alunos ganharam a perfeita noção do que é o Pimba Clássico ao ver os bailaricos, os rapazes marotos a tentarem conquistar as raparigas, as caricaturas exageradas do que há de mais piroso no povo português.

A "Perfume" da Ágata amoleceu os corações das mais puritanas e cheguei a ouvir comentários como "este gajo é um canalha!". O Pimba Romântico com o estereótipo da mulher-canhão traída pelo marido pintas-de-bigode-cabelo-para-trás-camisa-de-flores-aberta-para-que-se-veja-o-fio-de-ouro-no-peito-peludo fez rir os homens e indignar as mulheres e a imagem da Miss Piggy da canção portuguesa vestida de lingerie vermelha e de garras madrepérola, rebolando as suas inconsoláveis banhas na cama fez rebentar uma sala em gargalhadas dando cabo da pouca seriedade com que o tema estava a ser tratado. Eles nem sabem que poderia ser pior, lembrasse-me eu de mostrar a Vaca Malhada q:D

A seguir veio a explicação do Pimba Foleiro, provavelmente o mais popular no nosso país. Para ilustrar o ranso elegemos Luís Filipe Reis que nos brindou com uma ótima prestação ao seu "Telefone". Nem o Paixão quando jogava na 1ª div. pelo Farense tinha uma gadelha daquelas, nem o Ti Chico que vende barquilheiros na Praia de Faro veste aquelas calças, nem o pseudo-intlectual Miguel Sousa Tavares se põe com aquelas poses de pseudo-poeta. Foi uma experiência medonha termos estado expostos à radiação da sua voz de catatua rouca e à sua roupa estilo poluição visual mas foi um mal necessário para que se percebesse a importância de certos sub-produtos pimba como o carro desportivo de matrícula francesa ou o piano vertical na sala para enganar as visitas. Olhos e ouvidos arregalados de horror, dedos em riste acusando o mau gosto, o rir para não ter de chorar de tristeza. Feio é de menos.

A "Garagem" de Quim Barreiros exemplificou o espírito irreverente das Semanas Académicas e aliviou o ambiente. Esclarecidas as alegorias, a turma cantou em uníssono o refrão velhaco e comparou o género musical com o Disco Polo que se ouve neste país. De certa forma até são parecidos na parolice, nos trejeitos, nos acordes e nos indumento. Também são parecidos no estatuto que exibem na sociedade, sinónimos de mau gosto e pouca formação. A maior diferença está em que o Disco Polo praticamente não tem tempo de antena da TV polaca ao passo que o pimba campeia nas estações portuguesas.

Infelizmente não me refiro apenas á música. Ao ver as notícias nos telejornais (BPN, professora de Espinho, Freeport, etc.) penso que estamos mesmo a tornar-nos um povo pimba num país pimba com governantes pimba de políticas pimba, com muita pena minha. Ao menos aqui as miúdas são mais giras!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Po Algarvisku

esta entrada vai ser escrita em bom algarvio no seguimento das comemorações da subida do Olhanense à prmêra.

ul. Krucza Contra a tendência sentida nos últimos fins de semana, deixei-me ficar em casa na noite de sexta. Mandei as tentações que me surgiram em forma de mensagens, e-mails e telefonemas pró camano e decidi respeitar esta embalagem a que chamam de corpo porque ele já reclamava descanso há muito tempo. Soube muito bem ficar em casa descansadinho, vendo televisão e fazendo aquele zapping típico dos homens que têm a gaveta do nada aberta, a ver o tempo passar, bocejando preguiçoso e curtindo o sossego do lar. Tinha uma cama só para mim e espojei-me em cima dela como um sapo esticando-me o mais que podia, havia algumas 10 horas de possível sono e dei-lhe em forte na lãzeira.

Sábado trouxe a festa da Gosia e os deveres do "alquimista" foram os de proporcionar três panelões de sangria à multidão que lá estava. As maganas jogaram-se esgalfetadas ao tacho com a sede em pinhoca e emborcaram a sangria em menos de um farelo. Foi bonita a festa, pá, porém calminha e serena porque elas não matam, moem e eu não queria muito estrafego naquela noite.

Domingo depois do laréu, porque ultimamente o graveto tem sido à estica, ainda fiz uma perninha no trabalho e aproveitei para passear pela cidade vazia. O céu nem estava embrulhado, dava mesmo fé de caminhar por Varsóvia e bem dito bem feito. Em boa hora o fiz pois descobri pequenos encantos em rincões escondidos e ganhei um gozo tremendo ao andar pela Plac Zbawiciela que é das praças mais lindas e carismáticas da Cidade Capital.Marszalkowska Atravessar a Marszałkowska para o lado da Politechnika, agora que a linha do elétrico está em obras, é mais interessante para que se possa admirar as fachadas cheias de ramicoques socialistas daqueles prédios do pós-guerra. A rua Krucza entrega-me ao Centro de Varsóvia e bota-me no meio do banzé causado pelos carros que passam nas horas pela Avenida Jerozolimskie. Vejo o Palácio ao longe mas marimbo-me para ele, aborrece-me dar-lhe de vaia e por isso atravesso a rua a fugir antes que venha um carro e que me dê uma panada. Passo pela rua Jasna e de novo o Palácio vem bispar-me à ravessa mas eu sou mais torto que ele e abalei sem dizer água-vai.

Depois dum cafezinho com a Kasia, já à boca da noite, surgem as luzes do lusco-fusco a dar novo encanto à cidade, o metropolitano, as americanices que levam uma alma a casa, a Natolin. Chego ao bairro calmo e nem viv'alma se vê na rua, as pessoas ainda estão em viagem de regresso a Varsóvia depois de terem passado o fim de semana à da famila. Eu volto para o sofá, amalho-me bem amalhadinho e em menos de nada começo a fiar borra passando os olhos pela televisão uma vez por outra.

Como é possível que haja pessoas que não gostam de Varsóvia?

domingo, 17 de maio de 2009

Os Índios subirem à prmêra, diéb!

O Algarve subiu à Superliga. Parabéns Olhanense!

OLHANENSE 

Fiquei orgulhoso com o resultado em Gondomar e com a promoção do Sporting Clube Olhanense, apesar de ser filho de Faro e da ancestral rinha entre a capital algarvia e a cidade da Restauração.

jorge e isidoro Terá o Olhanense um adepto atento em Varsóvia, um adepto que acompanhará a sua campanha no campeonato maior do futebol português e que lhe dará todo o seu apoio em 28 das 30 jornadas. Já pensando na próxima época, faço votos para que 2009-10 seja uma temporada de êxito e que dignifique os pergaminhos da tradição algarvia na 1ª divisão. Numa altura em que o Farense abandona a luta pela subida à 2ª B, aplaudo o Olhanense pelo sucesso alcançado e abraço os meus amigos de Olhão pela façanha obtida, tentando sorver um pouco a alegria e a festa que por certo jorra de Quelfes à Armona. Aquele jardim do Pescador… ai mãe, gandes bezanas!

Gostaria é de saber se alguém gritava das bancadas do Zé Arcanje: “Mexe da equipa, Jóge Costa!”

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Hermanos, porque a família não podemos escolher

Quando o Criador inventou o Mundo, começou por colocar as Virtudes e pôs a seu lado os Defeitos para que a coisa ficásse equilibrada. Criou o Amor e logo o Ódio, a Riqueza e depois a Pobreza, fez a Harmonia mas compensou com o Caos, etc. Depois de Portugal ter sido criado, um ajudante perguntou confuso ao Todo-Poderoso: “Não compreendo. Fizeste um país belo de paisagens inigualáveis e praias lindíssimas, com um clima invejável e comidas deliciosas, com um idioma melodioso e um povo bravo e corajoso, um país de vinhas e fados, belo como lugar nenhum no mundo… O que podes fazer para minimizar tamanha qualidade?” Respondeu o Mestre: “Logo vês o povo que lhes vou pôr como vizinhos…”

Já comentei isto com muitas pessoas, e faço do tema tópico recorrente nas minhas aulas, um dia hei-de escrever um livro subordinado ao tema “A Espanha É Um Erro” no qual irei dissertar sobre as várias razões que me levam a afirmar que a Espanha não pode ser considerada uma nação no mesmo sentido e com a mesma conotação em que nós concebemos Portugal como tal.

Um dia hei-de escrever esse livro, no qual abordarei temáticas reais com argumentos irrebatíveis e nos quais este episódio se encaixa contribuindo valiosamente para a certeza dos meus pontos de vista.

Não, eu não estou a ficar um velho rabuja a mandar vir contra meio mundo. Há é coisas que são demasiado evidentes para ignorar e a burrice dos homens, patente no 3º ponto do post anterior e nesta notícia, é uma delas.

Três apontamentos sobre bola

1.

Já foram divulgadas as quatro cidades polacas que vão receber jogos do Euro2012 – Gdańsk, Wrocław, Poznań e Varsóvia. As duas primeiras vão ter estádios novos construídos de raíz, a Arena Baltycka com capacidade para 44000 espetadores, e o Estádio Municipal de Wrocław que albergará 42000 pessoas. Poznań e a Capital reconverterão os seus Stadion Lecha e Stadion X-Lecia, passando este a designar-se muito simplesmente Estádio Nacional. São empreitadas de vulto a que os polacos se estão a votar com denodo logrando inclusivé contornar a pesada burocracia das instâncias governamentais que ainda sofrem com os hábitos socialistas. Duas cidades ucranianas continuam na lista do Euro, Kiev e Donetsk, mas as sucessivas convulsões políticas e a aparente falta de fundos da Ucrânia pode até levar o certame na sua totalidade para a Polónia. É coisa para acompanhar nos meses mais próximos.

2.

Parece que Rui Jorge vai ser o próximo técnico do Belenenses, pelo menos nas últimas jornadas do campeonato. Para além da imensa sorte que ele bem precisa, quero saudar o seu regresso ao futebol maior por ser uma personagem que faz muita falta. Rui Jorge sempre foi um jogador de discurso diferente, inteligente, sem clichés nem lugares-comuns e que sempre afirmou a sua individualidade de pensamento como no episódio das “plantas” com Boloni. Respeitava-o enquanto jogador do FC Porto e tornou-se um dos meus prediletos no Sporting. Apesar de ele não ser sportinguista desde pequenino gostaria de vê-lo na estrutura diretiva do meu clube por rever nele qualidades técnicas e humanas que fariam de Rui Jorge uma verdadeira mais-valia para o Sporting. À atenção dos candidatos à cadeira-mor leonina.

3.

Recebi uma reflexão, de autor que desconheço, sobre o campeonato português de futebol que merece ser divulgada, não há qualquer referência a clubes específicos para as interpretações ficarem ao critério do leitor. Apenas acrescento: Antes tivésse nascido mulher do que acreditar nestes pagadores de promessas!

Nos últimos dez, quinze anos, tem existido apenas um critério que permite chegar a presidente dum certo clube: atacar um determinado presidente rival. Competência, como dirigente e gestor? Irrelevante. Construir boas equipas e ganhar títulos? Secundário. O que verdadeiramente mobiliza os adeptos é o ódio ao presidente dos outros. Até ao dia em que apareça alguém com coragem para reconhecer, por um lado, a superioridade e o exemplo duns e, por outro lado, os profundos erros cometidos pelas sucessivas direcções dos outros dos últimos anos, o "clube dos milhões" continuará afundado nas desilusões.

Vejam como decorre uma época de futebol típica em Portugal. Agosto é o mês de todas as esperanças. As vitórias nos torneios de Vila Real de St. António, nos jogos de apresentação contra as reservas do Milão ou do Real Madrid, e um ou dois grandes golos de jogadores prematuramente acabados e a gozar uma reforma dourada em Portugal tornam logo o clube "campeão". Já perdi a conta à quantidade de vezes que ouvi amigos meus, nos almoços e jantares de Verão, dizerem-me com a mais genuína das convicções que "este ano é que é, vamos ser campeões". A minha resposta é sempre a mesma: voltamos a falar em Maio. A partir de Abril, começam a dizer que "o futebol em Portugal é uma vergonha".

Novembro e Dezembro são os meses das primeiras desilusões. Vão-se as competições europeias e, na semana seguinte à eliminação, o presidente faz um discurso na casa do clube de Toronto a dizer que vai construir a melhor equipa da Europa. E o mais espantoso é que muitos continuam a acreditar. Não há limites à ilusão. Março e Abril são os meses em que regressa sempre o "sistema", e os famosos ‘dossiers' que vão repor a verdade no futebol português".

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O teu pai é careca?

Primavera, na Polónia, nem sempre é sinónimo de boa disposição e alegria. Para alguns, a primavera é sinal de grandes tormentas e maus bocados devido aos pólens que pairam no ar seco e que dão cabo da vida aos mais propensos a alergias. Há muitas poeiras no ar de Varsóvia, em grande parte causadas pelas inúmeras obras que se encontram um pouco por todos os cantos da cidade. A falta de chuva não limpa a atmosfera e o pó que flutua está carregado de partículas fatais para quem sofre de problemas respiratórios. É o tempo das lágrimas, das corizas e espirros, dos lenços de papel, dos bálsamos para a pele do nariz.

Dente-de-Leao O Dente-de-Leão que aqui exibo tem muitas propriedades terapêuticas mas também é a grande responsável pela aflição de milhares de polacos, as suas frágeis sementes desprendem-se da sua base à passagem duma brisa mais rija e voam doidas no céu de Varsóvia. Às vezes estas petalazinhas juntam-se às poeiras e formam-se novelos que são o pesadelo dos mais sensíveis a afeções respiratórias. Já presenciei uma crise alérgica causada numa amiga pelos pólens que refiro e o espetáculo não foi nada agradável, a Gosia espirrou uma dezena de vezes seguida, quase que deixou de respirar e os olhos jorravam lágrimas sem parar. Também já vi dias em que a atmosfera está impressionantemente carregada destes grossos novelos, quais flocos de neve que ficam suspensos no ar à espera de serem respirados por algum mais incauto.

Felizmente não tenho dessas comichões e posso passear tranquilamente  entre a "neve de primavera" que Wilanówassola Varsóvia, a mesma sorte não têm alguns dos meus amigos e muitos habitantes da cidade que nesta altura  não ganham para os lenços de papel. Se vem visitar Varsóvia e se tem problemas de alergia talvez não seja má ideia fazer-se acompanhar duma máscara para a Gripe A, não porque haja risco de ser contaminado com o vírus da doença mas para filtrar o ar carregado da capital polaca porque este ar não é para todos. Aliás, assim como a própria cidade.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Postais da Polónia - 9

A Cidade Velha de Varsóvia é uma das mais importantes atrações turísticas da cidade e provavelmente o núcleo da identidade de Varsóvia. Aqui se sente melhor como era a Cidade Capital antes da Guerra Mundial e da ocupação soviética, temos uma perspetiva mais definida do viver varsoviano e sentimo-nos levados para tempos mais longínquos. A Cidade Velha é ponto inevitável de visita em Varsóvia.


A Cidade Velha, carinhosamente apelidada pelos varsovianos de Starówka - Velhinha, é Património Mundial da Unesco desde 1980. O Centro Histórico da capital da Polónia foi praticamente arrasado pelas tropas nazis durante o Levantamento de Agosto de 1944 e foi uma empreitada de reconstrução entabulada pelo regime soviético do pós-guerra. Muitos braços de trabalho foram trazidos de toda a Polónia para trabalharem na recuperação de Varsóvia e igualmente no seu Centro Histórico, derivando dessa situação a reputação que as pessoas que habitam em Varsóvia carregam, o de não gostarem de Varsóvia e de viverem na capital apenas pelo dinheiro.


De facto pouca gente é natural de Varsóvia, o que se compreende se olharmos para as enciclopédias e percebermos que há pouco mais de 60 anos 85% da cidade tinha sido apagada bem com a sua respetiva identidade. As pessoas que reabitaram a Cidade Capital foram essencialmente aldeãos, gente com poucas habilitações e educação que foi engajada para trabalhar na reconstrução dos edifícios destruídos pela 2ª Grande Guerra e que contribuiu para a dito perjurativo com que a Polónia se refere a Varsóvia: "Moras em Varsóvia? Ah, essa aldeia..."

 
A Cidade Velha é mesmo um monumento por si, um fantástico trabalho gif de restauro duma zona perfeitamente arrasada e que retrata fielmente a aparência do coração de Varsóvia antes do Holocausto. O castelo real e a estátua do rei Sigismundo III (venerado pelos varsovianos por ter transferido a capital de Cracóvia para Varsóvia e ficar mais perto da sua Suécia natal), a catedral de S. João, as muralhas e o barbacã, o monumento ao Pequeno Insurgente que homenageia as crianças e jovens tombados durante o Levantamento, o monumento ao grande guerreiro Jan Kiliński e respectiva lenda (a espada em riste significa que a Polónia está protegida, portanto, livre de guerra. A espada em baixo significa tempo de conflito ou o fim do mundo) são umas dos vários motivos de interesse que fazem da Starówka um local obrigatório de paragem para quem quer conhecer Varsóvia e a Polónia. É também um dos meus locais preferidos de passeio na cidade, recomendo vivamente

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Koniec II - R.I.P. Vasco Granja

A Pantera Cor de Rosa ficou orfã. Morreu Vasco Granja.

Vasco Granja Este senhor é figura incontornável da história dos nados na década de 70, o apresentador do único programa de animação que havia na televisão portuguesa era um tio mais velho cuja visita recebíamos ansiosamente em todas as manhãs de domingo. Ele trazia-nos os desenhos animados que tanto nos satisfaziam e o genérico do programa era um catalisador de emoções para as crianças da altura.

Apesar de ser uma figura do mundo infantil, Vasco Granja não foi propriamente uma personagem de desenho animado. Assumidamente comunista, Vasco Granja foi preso por financiar o Partido Comunista através do dinheiro dos bilhetes de cinema dos filmes que eram exibidos nas salas lisboetas que o próprio Granja alugava. Posteriormente, a sua ligação ao movimento comunista dos cineclubes foi o pretexto para nova detenção e prisão em Peniche onde foi submetido à tortura do sono pela PIDE.

Contudo a imagem de Vasco Granja é a do homem ligado ao cinema de animação do qual foi pioneiro em Portugal, criando cursos e iniciando o programa televisivo "Animação" que durou mais de 16 anos. Os filmes eram fundamentalmente da Europa de Leste, naturalmente devido às suas convicções políticas mas também porque o apresentador considerava que havia uma mensagem de paz presente nesses filmes.

Vasco Granja não foi um homem consensual na sua preenchida vida masa pantera cor de rosa a imagem do senhor magro e careca, primeiro a preto e branco sem óculos, depois a cores com óculos de massa mas sempre com aquele único timbre de voz terna, que nos explicava os enredos mais estranhos desenhados por nomes impronunciáveis, ficará para sempre gravado na memória das crianças da minha geração, a "Geração Vasco Granja". Um pouco do que todos nós somos hoje se deve muito a ele.

Fique em paz, sr. Vasco, e obrigado pela sua dedicação aos mais novos.

Dia da Mãe

Ontem foi Dia da Mãe, dia de lembrar e saudar a mãe, a mulher, a progenitora e a educadora. Devido à ausência física, o beijinho teve de ser dado por sms mas a reflexão fica aqui patente.

Não vou fazer elogios lamechas ou tecer loas à minha mãe, a relação que tenho com ela apenas nos diz respeito e tenho pudor em publicá-la. Quero apenas enaltecer o seu papel na edificação da pessoa que sou, com todos os meus defeitos e virtudes, porque à medida que a idade vai crescendo eu vou ganhando uma forma diferente de ver a vida e de entender todas as suas vicissitudes. Ser mãe não é nada fácil e papar os grupos que a minha papou muito menos, porém isso é outro par de mangas.

A estória de escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho nunca foi perfilhada por mim porque ter filhos nunca foi minha prioridade. Esse é um tema que causa alguma pena à minha mãe pois ela vai entrar nos 60 este ano e gostaria de ter um netinho, é um desejo legítimo e natural mas que não poderei concretizar tão cedo. Não sei se deixarei descendência pois a indefinição eterna que parece ser a minha vida não permite desenhar planos tão irrevogáveis, portanto não me parece que o papel de mãe ao quadrado será desempenhado pela minha mãe num futuro próximo.

dia da mãe O que posso fazer, e tentarei fazê-lo até ao fim, é ser o melhor filho possível tendo a consciência que nunca serei o melhor filho do mundo ou um filho perfeito. A minha mãe também não é a melhor mãe, mulher, progenitora ou educadora do mundo nem é perfeita (apesar de ter andado lá perto há 35 anos e meio acabou por borrar a opa 7 anos depois) mas de todas as mães que eu conheço é aquela que escolheria para criar os meus filhos, com todos os seus defeitos e virtudes. Está na massa do sangue, já a mãe dela era a âncora da nossa família, uma mulher que se deitava à meia-noite e às 4:30 da manhã já bulia em velocidade máxima.

Não sei se já serei ou algum dia virei a ser motivo de orgulho para a minha mãe mas estou muito orgulhoso de ter vindo daquele metro e meio... vá, metro e sessenta e seis de gente.

Bjinhos, mânha. E bichas no cu, um cento!