sexta-feira, 30 de novembro de 2007

(se eles) Dizem que isto ainda não é nada (então não sei o que será alguma coisa)

Varsóvia, 10:30 da manhã, varanda do meu apartamento 3 dias depois da foto anterior.


Quando chegar o Inverno devo ter neve até à janela, concerteza.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Targa de crabalhos

Já fui à Embaixada Portuguesa em Varsóvia dar-me a conhecer e comunicar oficialmente que sou mais um patrício a viver na Polónia (esqueci-me de perguntar quantos somos...). Já fui à Junta de Freguesia de Tychy, contando com a inestimável ajuda do pai da Iza, recensear-me para poder contar como elemento activo no mercado de trabalho deste país. Já tenho número de telemóvel polaco. Já tenho contratos de trabalho registrados em Varsóvia que comprovam a minha profissão. Já tirei o passe do metro, elétrico e autocarro. Já tenho o Cartão Europeu de Saúde para não dizerem que tenho piolhos. Fiz tudo o que foi-me pedido para poder estar descansadinho nesta terra a ganhar o meu e a contribuir modestamente para o seu desenvolvimento, só faltava pedir o Número de Identificação Fiscal - o nosso Número de Contribuinte.

Puseram-me isto à frente:



















E agora, Miguel?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Para seguir com atenção

Salvé, Faro! Os teus habitantes saúdam-te... à distância.

Já aguardava por esta boa nova há algum tempo. Espero que venha a beneficiar a cidade tanto quanto precisam dela aqueles que transitam entre Loulé e Olhão.

Só espero é que não ponham meia dúzia de tomates e laranjas à frente do desenvolvimento e progresso do concelho, já bem basta a vergonha que é o nosso acesso directo à A22.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Dizem que isto ainda não é nada

Varsóvia, 10:30 da manhã, varanda do meu apartamento.


O Daniel é que tem razão: "Não há dinheiro que pague o clima algarvio!"

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Na Polónia sê polaco - 2


Esta imagem retrata dois símbolos indeléveis da Polónia. O Fiat 126 e o "pierogi" .

O Fiat 126 foi produzido na Jugoslávia e, a partir de 1973, na fábrica que o construtor italiano tem em Tychy, terra da Iza. A partir de 1980 e até 2000 esta fábrica ficou com a exclusividade de produção deste modelo que tantas vezes encontro nas ruas polacas. O meu interesse por este simpático utilitário vem da curiosidade natural pela quase inexistência de carros destes em Portugal mas também pela elevada simbologia histórica que eles carregam.

O chamado Polski Fiat 126 (Fiat 126 Polaco) tem uma ligação com o período de influência comunista na Polónia. No regime comunista, um automóvel próprio era considerado
bem de luxo dada a acessibilidade limitada e os baixos salários. Em 1971 existiam apenas 556.000 automóveis de passageiros na Polónia. Note-se que numa economia socialista a decisão sobre se uma fábrica estatal poderia produzir automóveis era assente em princípios políticos e não económicos. As próprias autoridades não viam com bons olhos a ideia de produzir-se automóveis. O primeiro carro polaco relativamente barato foi o Syrena (nome da criatura semi-deusa, metade mulher e metade peixe como as sereias, que protege o rio Wisła e a cidade de Varsóvia) mas a sua produção foi muito limitada. Carros importados de outros países do Bloco de Leste eram muito poucos e era difícil comprar um carro estrangeiro porque a moeda polaca, o złoty, não era cambiável tal como todas as outras moedas dos países do Pacto de Varsóvia e não havia mercado livre.

O Polski Fiat 126p (este "p" foi adicionado para distinguir o modelo polaco dos italianos e jugoslavos) foi supostamente o primeiro carro barato para motorizar as famílias do país, seguindo o conceito do VW Carocha na Alemanha e do Citroën 2 cv francês. Apesar de pequeno era o único carro que as famílias podíam comprar e fazia as vezes dum monovolume. Naquele tempo era comum verem-se famílias de 4 elementos em férias no campo dentro dum PF 126p afundado de malas na capota. No entanto os automóveis não foram produzidos em quantidade suficiente e foram racionados, pondo famílias em lista de espera às vezes por dois anos como a RDA fazia com os seus Trabant. Apenas no caso de algum louvor ou mérito é que o Estado excepcionalmente brindaria uma família com uma senha para o automóvel. Em 2000 estes "Maluch" (algo pequeno) deixaram de ser produzidos com a última remessa (os Happy End) a ser inteiramente composta por modelos de cor amarela. Contudo ainda se podem ver inúmeros carrinhos destes a zunir pelas ruas e estradas polacas.

Os pierogi são como os rissóis mas com recheios mais variados e nem sempre fritos. Já comi pierogi com couve e cogumelos, à moda russa (de queijo e passas) de carne, vegetarianos, com recheio de morango e posso dizer que são bons... se não forem muitos, senão enjoam. A foto tem piada pelo trocadilho involuntário. Portugal em polaco diz-se "Portugalia". A marca do produto é "Pierogalia". Haverá aqui ligação?

Dá-me vontade de comprar um PF 126p e kitá-lo todo só para judiar! q:D

domingo, 25 de novembro de 2007

O guarda-redes é uma ganda...

Este é o website duma obscura equipa de futebol da 2ª divisão polaca. O primeiro atleta da lista é o guarda-redes titular e capitão de equipa.

Calculem as anedotas se ele jogásse em Portugal.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Quem é o "cá má feu" que tu conheces?

substantivo masculino, pedra preciosa com duas camadas de cor diferente, sobre uma das quais foi gravada uma figura em relevo;


pop., mulher muito feia;

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Das duas uma: Ou vamos à Áustria ou à Suíça


Algumas latas de ceveja depois consegui celebrar o sofrido apuramento de Portugal para o Europeu. Tipicamente scolariesco, como afirmou um visitante da nossa taberna, esta fase de qualificação foi do mais sofrível dos últimos tempos. Jogos dos 150 que fizeram-nos sofrer sem necessidade nenhuma mas que culminaram num escriba de cachecol e bandeira, agarrado ao pc vendo a transmissão do jogo online, arrotando alarvemente como bom tuga, praguejando contra as bolas cheias de tabaco que o Maniche mandava à baliza, chutando os puffs da sala sempre que o Quaresma falhava uma rabeta, marafado com a @€§$ da parabólica que ainda não está instalada, perguntando o porquê do Makukula não ter entrado mais cedo enquanto ainda surgiam cruzamentos para a área.

Ou seja, encontro-me meio bezano a escrever a posta de hoje porque preciso de comunicar a minha alegria ao mundo. Vamos ao Europeu, porra!!!! Já estava a ver polacos (que pela primeira vez na história qualificaram-se para a competição) a dizer "Ai és português? Nós vamos ao Europeu, vocês não vão porque perderam conosco."

Valeu, boys! Estamos e isso é que interessa!



PS - Completamente off-topic, não posso deixar de mencionar este episódio. Tem a importância que tem, a gravidade que tem, o significado que tem mas fundamentalmente tem a piada que tem. E não é pouca.

Passa por mim... whatever!

Há tempos conheci uma rapariga de Leiria que contou-me ser no seu distrito onde encontram-se as localidades com os nomes mais estranhos. Perante os exemplos que ela me deu acabei por concordar pois não lembra a ninguém morar em Caranguejeira, Amor, Bidoeira de Cima, ou Souto da Carpalhosa. Ainda ri umas boas horas no Zé Maria com essa miúda à pala duma visita minha a um amigo de Peniche que levou-me a passar por Atouguia da Baleia e que deixou-me a imaginar como seria a designação da Banda Filarmónica local.

Mas por muito esquisitos que sejam os nomes de Leiria (e o Algarve também tem nomes estranhos: Mexilhoeira da Carregação?!) nunca chegarão aos calcanhares do nome desta localidade, laureada com o Prémio Misha "vai-morar-pró-raio-que-te-parta-pá!"



Bem poderia esperar pelas vossas cartas q:D

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Queres o quê?!

De uma maneira ou de outra tenho conseguido arranjar substituição para muitas coisas que não existem neste país, fundamentalmente na alimentação.. Por exemplo: Na Polónia não há...

- Carne grelhada (entremeada, costeleta, febras); os polacos não têm esse hábito mas têm outras especialidades que são igualmente saborosas e satisfazem o meu paladar.
- Marisco barato; os camarões são pornograficamente caros e das santolas nem se fala. Sapateiras nunca as vi. Prometo nunca mais falar mal dos preços do Amador.
- Batatas fritas com sabor a presunto; mas existe com sabor a frango assado e são muito boas!
- Bolas de Berlim da fábrica; encontrei algumas com recheio de maçã, dá para desenrascar.
- Sporting; deve ser karma porque o clube de Varsóvia, o Legia, vai em 3º lugar a alguns 8 pontos do líder... clube da 2ª cidade do país. Dejá-vu descarado.

Mas as primeiras negas vieram dum local que, julgava eu, estaria mais sujeito a influências do exterior. A farmácia.
Eu trabalhei 15 anos em farmácia o que permite-te ter algumas noções dos procedimentos a tomar com as gripes e constipações que atravessam transversalmente a Europa nesta estação. O bom do meu sogro está atacadíssimo da garganta, catarro persistente, espirra de seguida, febrícula na casa dos 37,5 / 38º e com dificuldade em engolir. Perante o quadro e a medicação que ele estava a tomar (aspirinas e lixo do mesmo calibre) resolvi dar um pulo à farmácia mais próxima para pedir a minha fórmula infalível - a dra. Isabel vai desculpar a minha opção - azitromicina a 500mg. Só que...

- Não existe? Você tem certeza? Isso é produzido em dezenas de laboratórios, como não existe?
- Eu sei o que o senhor pretende mas esse produto não existe na Polónia.
- Epa, mas são inclusivamente laboratórios alemães que produzem e vendem a substância... Não existe em apresentação nenhuma?
- Lamento mas não existe. Só na Alemanha mesmo.
- Moss, agora vou eu daqui à Alemanha por uma caixa de comprimidos?

Neste ponto percebi que não valia a pena insistir e lembrei-me que precisava dum tubo de Halibut, pomada vulgar e ancestral que dá-me bom resultado quando aparece uma borbulha malina.

- Halibut também não existe.
- Ai o camano... Pronto, uma pomada qualquer com Vit. A e que tenha zinco, vá.
- Não existem pomadas assim, só em spray.
- Spray? Vou pulverizar a testa e andar escorrendo produto por causa duma borbulha? Não tem nenhuma pomada anti-séptica do mesmo tipo?
- Não existe, lamento.

Isto não se deveu a dificuldades na tradução pois a interlocutora foi a Iza. Não existe, não há. vai ao Totta, bate a asa, gira, andor!

Juntando a este episódio o facto de também não existir a gama que uso para o barbear e para os cuidados diários do rosto (culpa da Ana, ela é que habituou-me mal) prevejo que vou deixar crescer a barba à talibã, o que até dá jeito para combater o frio. E espero não adoecer na Polónia porque provavelmente a solução para o meu problema... não existe.

sábado, 17 de novembro de 2007

Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 3

Hoje é sábado e aos fins de semana costumamos visitar a família da Iza em Tychy. Como eu tinha de tratar de papelada referente ao meu registro de residência decidi viajar logo ontem de manhã para poder ter o resto do dia disponível e correr toda a burocracia necessária a este tipo de trabalho.

Saio de Varsóvia numa manhã agradável, de céu não muito nublado e com temperatura dentro do que já vou estando habituado a sentir. Os 2 ou 3ºC dos últimos tempos. Estrada sem neve, nem gelo, nem água, prevendo uma viagem mais rápida do que as anteriores. O sol brinca comigo quando espreita entre as nuvens, a observar como estou a adaptar-me à sua quase permanente ausência. A viagem corria bem, bem lançado na estrada quando a meio do caminho a paisagem muda quase dum segundo para o outro.

Terá nevado a partir dum determinado ponto da Polónia para sul pois em Varsóvia nem sinal de neve. Isto foi a pouco mais de 100km depois de ter saído de casa porque o que me esperou ao chegar a Tychy foi isto:








A rua que estava sempre em tons de verde escuro ou amarelo torrado agora cobre-se com uma camada espessa e fofa de neve. Parece uma gigantesca cobertura de chantilly que se abateu sobre o sul da Polónia e apanhou-me desprevenido. Moral da história: Tive de gastar quase 400 złotys para enfeirar um casacão à polaco e umas botas como deve ser para não ficar com os pés gelados. O inverno ainda não começou e já está a sair-me caro.

Mudando de assunto; A Polónia joga contra a Bélgica no Estádio Silésia em Chorzów, cidade que dista apenas 30km de Tychy. Bilhetes a 40zł (+/- 12€) são convidativos mas infelizmente a lotação do estádio está esgotada pois todos querem assistir à mais que provável qualificação da selecção polaca para o Europeu de 2008 na Áustria e Suíça. Por isso vou ficar em caselas a papar os dois joguinhos, o da Polónia às 20:00 e o nosso em Leiria que dá na RTPi às 22:00. Se não ganharmos haverá grandes possibilidades de eu mandar todos dar uma kurwa, espero que tudo corra dentro do esperado.

EDIT: A Polónia ganhou (com dois golos caídos do céu) e fez a festa merecida. Portugal ganhou jogando uma merda mas espero que também mereça a festa. Era o que faltava!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O que foi não volta a ser

Também eu fui jogador, mas tudo tem o seu tempo. Tal como o meu, o tempo dele já lá foi.

Esta é decididamente uma boa notícia... a concretizar-se. Espero que não se fiquem por aqui.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Soviéticos? Não, obrigado.

Como referi no post anterior,nunca pensei que a minha alcunha old-school pudésse trazer-me tantos amargos de boca mas efectivamente "Soviético" não é um apodo muito bem visto nestas paragens e já chamaram-me a atenção para tal facto.

Não é que eu apresente-me às pessoas com tal nome, nem por sombras. Estou inscrito em foruns de estrangeiros a viver em Varsóvia por achar ser uma boa maneira de fazer possíveis novas amizades e partilhar experiências com outras pessoas aqui emigradas, conhecer as suas opiniões e prosseguir cada vez melhor com o processo de adaptação ao novo país. Ora, a minha caixa de correio preferencial é demasiado explícita para os costumes da região tendo sido já motivo de advertência por parte de tugas cá emigrados e de "locals" que mostraram-se indignados com tal afronta. A História passada e recente não abona em nada o que venha da Rússia ou da extinta URSS e ainda não encontrei quem se recordásse dos tempos comunistas com saudade, bem pelo contrário.

Por muito que tentásse explicar que o cu não tinha nada a ver com as calças fui mesmo convidado a mudar o meu perfil do hi5, redefinir a caixa do correio e esquecer todas as minhas afinidades com a antiga União Soviética sob pena de ninguém passar-me cartão ou de ser carimbado como "persona non grata". Assim, se alguém quiser visitar-me neste interessante país, agradeço que esqueçam a minha alcunha farense e chamem-me exclusivamente pelo nome próprio ou pelo do ursinho fofinho que todos conhecem. Ainda a Embaixada tem de pagar a transladação do corpo.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Cai neve em Nova Iorque, faz sol no meu país...


Há poucas mas substanciais diferenças entre os silesianos e as pessoas de Varsóvia e isso é mais visível no seu comportamento na rua.

Já não arrisco levar o carro para a Baixa da cidade e perder 2 horas para percorrer 5 ou 6 km. o metropolitano é o meio mais práctico de chegar ao centro, sem filas nem arruaças para estacionar. Mas não passo sem levar uma sova até poder respirar nas carruagens pois assim que se ouve o ruído do comboio aproximando-se da estação começa a luta por um lugar na frente do pelotão que apresta-se a invadir o dito comboio. Os passageiros que saem mal conseguem fazê-lo tão forte é a vaga de gente que os empurra de volta para dentro da carruagem e para sair-se a tempo na estação desejada é conveniente ganhar posição logo na paragem anterior.

Na Silésia isso não acontece porque não têm metropolitano, em primeiro lugar, mas também não acontece nos autocarros que apanhei porque as pessoas são mais simpáticas e prestáveis. Percebo agora porque disseram-me em Katowice que "ninguém gosta de Varsóvia, nem mesmo os varsovianos". Porém não é a cidade que faz as pessoas, bem pelo contrário, e Varsóvia é uma cidade demasiado bonita para ser classificada negativamente só porque os seus habitantes não têm nenhuma educação cívica.

Hoje tive de andar em monte, penso que calcorrei mais de 10 km para chegar a diversos pontos do centro de Varsóvia. O meu conceito de "longe e perto" começa a modificar-se desde que vim morar para cá, as distâncias medem-se em horas e minutos em vez de metros e quilómetros. As ruas de Varsóvia são como as avenidas algarvias, as avenidas de Varsóvia são como a EN125. Tudo é relativamente perto mas nada é perto o suficiente para poder-se andar até lá, cada vez mais agradeço por ter o Metro a 2 minutos de casa.

Não ficaria muito chateado se tivésse apenas de ter andado dum lado para o outro porque descobri muitas curiosidades interessantes na cidade, como um instituto polaco-nipónico de estudos sobre computação e informática patrocinado quase inteiramente pelo Governo de Tóquio. Ou duas Câmaras de Comércio e Cultura da Hungria e da Eslováquia que procurarei analisar com mais tempo proximamente.

O que me marafou foi ter de levar com neve no focinho o tempo todo! É preferível neve a chuva porque a neve sacode-se enquanto a chuva ensopa uma pessoa, mas levar com neve pela fronha é terrível. O vento trazia-a de tal forma que batia-me na vista impedindo-me de olhar em frente e fez-me abortar os planos que tinha para a tarde.

Como se não bastásse o facto de ter conduzido desde Tychy a Varsóvia (320km) a 90 km/h sempre a nevar, agora não posso sair à rua sem ficar carregado dessa caspa molhada! Um gajo põe o gel maravilha de manhã para destacar o traço latino e ao princípio da tarde tem a gorra feita em merraça, tudo pastoso nem assunto nenhum, com o cabelo cheio de nhanha. Cá está que os polacos têm o cabelo cortado a pente 1, sempre têm razão.

Outra coisa que reparei é que a minha alcunha old-school não é muito apreciada por aqui. Os soviéticos não têm grande cartel por cá, como não têm os russos. Os ucranianos ainda são tolerados por serem mais humildes e trabalhadores mas este vosso escriba será conhecido unicamente como Misha ou Nuno, não quero aparecer a boiar no Wisła um dia destes. Dasse!

E Faro com 22ºC. Fai camano...

domingo, 11 de novembro de 2007

Na Polónia sê polaco - 1

Batatas fritas de sabor frango assado, queijo com ervas e cebola verde.

E perguntam vocês:
- Misha, velho e sábio Misha! O que é cebola verde?
E respondo eu:
- É o grelo da cebola que eles cortam aos pedacinhos e usam para temperar a comida.

Eles lá sabem...

sábado, 10 de novembro de 2007

Ponto e vírgula

Quero, antes de mais, agradecer ao pessoalzinho que deixou mensagens de apoio no texto anterior. Pior que a tristeza infligida por uma notícia chocante é a angústia da impotência, a distância que obrigou-me a falhar momento tão importante. Os toques que me deram serviram de consolo. Valeu, maltinha!

Consolo foi também regressar hoje a Tychy nem que fosse para deliciar-me com a comida caseira da mãe da Iza e ser recebido com um engraçado "olá, varsoviano!". Vim também buscar o resto da roupa, acartar o PC e respectiva tralha eletrónica porque provavelmente 2ª de manhã irá um técnico a casa instalar internet (finalmente!), tv por cabo e telefone porque faz parte do pacote mesmo que não faça tenção de utilizá-lo muitas vezes. Se o técnico for um bacano pode ser que o convença tratar logo da minha parabólica para poder receber os canais portugueses em casa e começar a acompanhar mais a actualidade do nosso País (diz que descobrimos petróleo no Brasil, é verdade?!) e a liga portuguesa. Por curiosidade, na liga polaca o Wisła Kraków vai à frente com 8 pontos de avanço sobre o 2º classificado, o Korona de Kielce, e mais 9 pontos que o clube mais representativo de Varsóvia, o Légia, quando faltam 2 jornadas para cumprir-se a 1ª volta do campeonato. O título parece entregue e qualquer semelhança entre esta realidade e a Superliga portuguesa parece ser mera coincidência.

A vida em Varsóvia tem sido de descoberta contínua, aparte a extraordinária seca que tem sido viver sem net nem sinal de televisão. Tivémos a sorte de encontrar um apartamento pertíssimo do metro, autocarro e elétrico, permitindo que o carro fique o dia todo na garagem. E digo sorte porque uma vez experimentei buscar a Iza ao emprego, na Baixa da cidade, e levei hora e meia para percorrer os 6 km de regresso a casa.

As primeiras impressões ficam para depois. Agora vou preparar o resto da bagagem para levar de novo para Varsóvia (Tychy fica a 300 km SW da capital) e ver se durmo uma grande beca porque tive de acordar às 6:00 e aproveitar o máximo de luminosidade para conduzir. Sabem o que é guiar com neve no piso e a cair em cima da marmita? Não é vida fácil, se pisamos um pouco fora da linha o bote bandeia-se todo e é um castigo para dominá-lo.

Ainda por cima os polacos a conduzir são kamikazes autênticos, mas isso fica para o próximo episódio.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Tu é que jogavas a montes!

(este infeliz texto foi publicado a partir dum cibercafé da Estação Central de Varsóvia. Ainda não tenho net em casa, talvez só para a semana que vem)

Era eu puto na casa dos 8/9 anos e ficava todo danado quando ele roubava-me a bicicleta para impressionar as miúdas do parque de campismo com cavalinhos e outras acrobacias. Deixava-me o guarda-lamas todo raspado e eu ia aos arames por não encontrar a bicla como tinha deixado. Nem me pedia desculpa, no dia seguinte fazia o mesmo e eu ficava sem o meu brinquedo favorito até que ele chegásse à roulotte bem depois da meia-noite. Durante o dia tinha de ouvir perguntar por ele tantas vezes quantas as adolescentes que cruzássem o meu caminho e falavam do raio dos olhos azuis e do cabelinho louro... como se eu não fosse também louro! Era terrível e devo ter tido por esses dias a minha primeira crise de ciúmes.

A vida levou a que, no final desse Verão, nos separássemos por alguns anos - ele em Lisboa e eu em Faro - mas sempre com contactos esporádicos para manter a linha activa. Estava eu no Liceu e assistia ao crescimento do seu currículo como elemento preponderante de casas de referência na noite da cidade alfacinha, tais como o Trifásica e o Kremlin. Ao mesmo tempo a sua inteligência permitia que se mantivésse afastado dos esquemas perigosos e criásse alianças de estratégia empresarial com nomes grandes da sociedade lisboeta. Talvez devido à sua costela sportinguista (até nisso!) um dos seus sócios foi o filho do único algarvio presidente dum grande clube português.

Essa mesma costela permitiu que assistíssemos juntos ao primeiro jogo oficial no novo Estádio José Alvalade, quando ganhámos 4-2 ao Belenenses. Escolhi-o para partilhar esse momento histórico e ele fez a fineza de honrar-me com a sua presença, aproveitando a sua presença ocasional em Lisboa. Recebeu-me no seu belo apartamento na zona da Expo onde jantei também com a avó dele e conheci a sua encantadora namorada de muitos anos.

Ultimamente os laços eram mais estreitos, as visitas menos espaçadas e telefonemas mais amiúde. Invejava o seu estilo de vida e concepção da mesma, sempre um passo além dos demais e com uma estrutura de tal forma sólida que possibilitava-lhe experimentar coisas que, para mim, só havia nos livros ou na internet. Um dia em Praga, no seguinte em Amesterdão, no meu aniversário uma mensagem da “monarquia inglesa”. Recebia-me em Lisboa de Mercedes, visitava-me em Faro de Porsche em trânsito para Sevilha de férias. Era um cromo que admirava com espanto, como se de um futebolista famoso ou duma estrela de Hollywood se tratásse. Uma ocasião fui autorizado a convidá-lo para uma das festas de Agosto do Club Camané onde apareceu vestido de mouro de turbante e cimitarra à cintura. Ao fim de um bocado encontro-o a conversar com uma “tia” e um pouco depois nem “tia” nem mouro na costa. O que se passou nunca saberei pois o tema era sempre cortado com mais uma imperial.

O meu irmão César não é muito conhecido em Faro, penso que só a minha ex-namorada conheceu-o pessoalmente. Contaram-me por telefone às 1:15 (hora de Varsóvia) da madrugada de segunda-feira dia 5 que ele deixou-nos sem dar cavaco às tropas, à papo-seco, sem dizer avonde, de estalo. Aborreceu-se da vida terrena e foi em busca de outros horizontes, sempre ambicioso e insatisfeito, se calhar seguindo algum capricho mais exigente que terá sentido ou porque pura e simplesmente andava enfastiado com o que fazia. Esta manhã entrei para uma entrevista de emprego em Varsóvia enquanto a minha família despedia-se dele em Benfica (o que foi que te fizeram, mano?!). O abraço que ele me deu recebi-o na forma da resposta positiva por parte da empresa que irá contratar-me. À tarde vi nevar pela primeira vez na minha vida, terá sido algum sinal?

Mano César, fiquei muito triste com a tua partida, ainda agora choro incrédulo. E deixas-me muito preocupado com uma dúvida que assaltou-me e tem-me perseguido: Se as pessoas boas, como tu, insistem em morrer o que será do Mundo quando só sobrarem os filhos da puta?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Este blogue regressa outra vez dentro de momentos

Os acontecimentos e oportunidades recebidas precipitaram a decisão de mudarmos de cidade. Amanhã de manhã partimos de armas e bagagens para Varsóvia e por lá ficaremos até surgir algo que nos faça repensar a estratégia que temos para a nossa vida neste país. Pode ser um mês, um ano ou uma vida.

Não sei quanto tempo demorará até eu estar online de novo pois temos de instalarmo-nos, pesquisar o mercado de servidores até escolhermos o que iremos ter em casa. Vai levar o seu tempo mas as coisas boas regra geral demoram até serem conseguidas.

Por isso o blogue vai sofrer uma pausa que desejo que seja curta. Em breve regressarei em força com as primeiras análises sobre a capital polaca e experiências de vida que certamente serão tão ou mais interessantes que as vividas até agora na Silésia. Acredito que com um pouco de sorte no final da semana que vem já estarei de novo no ciberespaço, portanto ficamos assim combinados. Até já.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Tamos aí, vó!

O dia de Todos-os-Santos é celebrado na Polónia duma forma muito intensa, com autênticas romarias aos cemitérios onde toda a gente recorda os seus entes duma forma muito própria. De manhã cedinho começa o périplo pelas cidades onde hajam parentes sepultados e em cada uma das campas deixa-se uma vela, um vaso de flores e reza-se em sua memória.

À porta de cada cemitério há dezenas de vendedores de flores, velas, doces. A polícia controla o trânsito e o estacionamento, autocarros despejam viajantes constantemente, pessoas caminham quilómetros para lá chegar. Dentro dos cemitérios famílias inteiras sentam-se em frente às sepulturas conversando ou em silêncio. Centenas - diria milhares - de pessoas espalham-se pelos talhões enfeitando-os de flores e velas luminosas. Esta tarefa repete-se em cada parente ou amigo, ocupa a manhã inteira e só por volta das 15:00 a família regressa a casa para almoçar e talvez descansar um pouco. Sensivelmente às 17:00, já de noite, nova visita aos cemitérios para passear literalmente entre as sepulturas dos familiares mais próximos e homenageá-los com alguns momentos de silêncio e reflexão diante das suas lápides. Este passeio não se revela nada lúgubre porquanto todas as campas estão iluminadas com várias velas causando um supreendente efeito colorido no cemitério. De notar que, ao contrário que em Portugal, os cemitérios polacos não têm os chamados gavetões pelo que prolongam-se por áreas significativas chegando por isso a atingir hectares de extensão. A intimidade do momento impediu-me que registásse em fotografia a imagem de milhares de velas iluminando um espaço escuro por natureza. Impressionantemente bonito.

Depois da folga dormida é tempo de visitar parentes. Manda a tradição neste dia que a família junte-se na casa dum tio ou primo e que se coma e beba entre as conversas familiares. Alguns dos parentes vêem-se uma vez por ano, por esta altura, e é naturalmente grande o entusiasmo com que se saúdam. Foi a oportunidade aproveitada para fazer-se a minha apresentação pública à família, o tal português que já se tinha ouvido falar finalmente revela-se. Foram momentos de grande curiosidade, cheios de perguntas e dúvidas, naturais de quem está perante uma pessoa que viajou meio continente em 4 dias até chegar à terra deles. As diferenças, os choques culturais, aspectos positivos e negativos, comparações, bisbilhotices sobre a nossa vida privada vieram à baila entre copos de cerveja, cheesecake, batatas fritas e saborosos pratos de bigosz. A atmosfera é a de um aniversário tardio. A lareira acesa, as crianças correndo, os homens rindo, as mulheres vendo fotografias de casamentos, os doces surgindo, o vinho escorrendo, risos e gargalhadas, brindes e memórias.

Primos e parentes trocam números de telefone conosco, fazendo votos para que nos visitemos brevemente. A tia da Iza diz-me que nunca gostou tanto dum rapaz de barba por fazer até hoje. Eu agradeço em polaco para aprovação geral. Toda a gente abraça-se agradecendo o fantástico catering proporcionado e eu abandono esta casa com vontade de ficar mais uns minutos a desfrutar de tão agradável ambiente e companhia. Os Krupa são efectivamente uma família porreira.

Nos cemitérios polacos existe uma cruz gigante para que aqueles que perderam familiares na guerra ou para os que estão deslocados e longe dos seus poderem prestar-lhes os devidos respeitos. No de Tychy coloquei uma vela pela minha avó porque tem olhado por mim como pedi-lhe imediatamente antes de fazer-me à estrada no caminho para a Polónia.

Espero que continue fazendo-o e eu espero não defraudá-la como prometi-lhe.